O toque das mãos, o pulsar da cultura e a expressão de uma região efervescente. Isso tudo se encontra nas linhas e relevos de uma xilogravura, arte que transcende o simples ofício para se tornar um ícone cultural.
Hoje, vamos celebrar e desvendar as profundezas deste legado que é a cara do Nordeste do Brasil, enriquecendo nossa percepção sobre essa técnica tradicional e os tesouros que ela oferece.
A arte popular em madeira
A xilogravura é uma técnica milenar de impressão onde, inicialmente, uma imagem é cuidadosamente entalhada em relevo numa placa de madeira.
Esta processualidade artesanal, permeada de dedicação e criatividade, encontra no Nordeste brasileiro um cenário pujante. É onde se misturam folclore e realidade, criando obras que retratam cenas cotidianas, religiosidade e a fauna e flora de maneira singular, repletas de simbolismo e expressividade.
Xilogravura de cordel: narrativas visuais
A xilogravura de cordel, por sua vez, eleva a gravura em madeira a outro patamar ao vinculá-la diretamente à literatura de folhetos.
Nesses pequenos livretos, histórias são narradas em versos, onde a capa, ornada pela xilogravura, convida o leitor ao universo lúdico e imaginativo da narrativa. No toque das páginas, sentimos a história, enquanto nossos olhos dançam pelas linhas gravadas, repletas de história e tradição.
Ícones da Xilogravura: J. Borges
José Francisco Borges, artisticamente conhecido como J. Borges, foi um artista, cordelista e poeta brasileiro, reconhecido como um dos mais renomados xilógrafos de Pernambuco. Nascido em 20/12/1935, em Bezerros, Pernambuco, e falecido em 26/07/ 2024, na mesma cidade, J. Borges deixou um legado imensurável para a cultura brasileira.
J. Borges destacou-se pela maestria na xilogravura, uma técnica que ele utilizava para retratar com alma e vivacidade a vida e a cultura nordestina. Suas obras, marcadas por um olhar profundo e ferramentas simples, criaram um diálogo artístico poderoso que ultrapassou fronteiras regionais e alcançou reconhecimento internacional.
O cordel mais famoso de J. Borges, ‘A Chegada da Prostituta no Céu’, publicado em 1976, vendeu mais de 100 mil exemplares.
J. Borges produziu 314 folhetos de cordel e inúmeras xilogravuras, expostas em museus como o Louvre e a Biblioteca do Congresso dos EUA. Desde os anos 1990, divide seu tempo entre Bezerros e o mundo, ministrando oficinas em mais de vinte países.
Comparado a Picasso pelo New York Times, ilustrou obras de autores renomados como Eduardo Galeano e José Saramago. Único brasileiro no Calendário da ONU (2002), recebeu prêmios como a medalha de honra da Fundação Joaquim Nabuco e a Comenda Ordem do Mérito Cultural.
O processo tradicional
Ao pensar na xilogravura, imaginamos o artesão a entalhar cuidadosamente a madeira, extraindo dela, imagens que falam.
A escolha da madeira, o desenho a lápis, o cuidado com os golpes do formão e o arranque preciso das farpas de madeira: cada etapa é uma declaração de amor à arte responsável por produzir cada cópia única e especial, preservando a essência de uma técnica que é tão atemporal quanto fascinante.
O décor e a moda se encontram na xilogravura
E não pense que a xilogravura se limita à tradição literária. Hoje, essa forma de expressão encontrou espaço na decoração de interiores, no design de moda e até mesmo em acessórios, provando sua versatilidade e a habilidade de se reinventar.
Quadros, estampas de roupas, bolsas e até joias se tornaram meios onde esses traços rústicos e, ao mesmo tempo, refinados, ganham vida e conectam o moderno ao tradicional.
Para vocês, apreciadores de objetos que contam histórias e emanam a essência de seus criadores, as xilogravuras são uma abordagem profundamente autêntica do artesanato brasileiro.
Cada peça é uma jornada pela riqueza cultural e pela paleta sensorial do Nordeste, uma oportunidade única de trazer um pedacinho dessa rica tapeçaria para dentro do seu lar ou guarda-roupa.
Convido-as a explorarem mais sobre esse universo fascinante e a descobrir peças que são verdadeiras relíquias culturais.
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