Trabalho de artesãs exalta as tradições do Natal por meio de presépios

Conheça a história e as técnicas usadas por três artesãs de diferentes regiões do Brasil

Por Redação Casa e Jardim

Variados estilos de artesanato, passando por argila, palha de milho e arte naïf, revelam as interpretações de três artesãs para o tradicional presépio de Natal. Na imagem, trabalho da artesã Fatinha — Foto: Alexandre Disaro / Divulgação

O presépio é uma forma de celebrar o nascimento de Jesus Cristo na época de Natal e faz parte do imaginário popular e de criações artísticas e artesanais de diferentes regiões do Brasil – país que tem sua fundação fortemente ligada às tradições católicas e ainda mantém mais de 70% da população adepta ao cristianismo.

Através de diferentes técnicas, artesãos de todo o país fazem suas interpretações dos presépios, que remetem à relação cristã com a data. Mas nem sempre foi assim. Embora haja consenso entre historiadores de que a celebração nesta data, antes de Cristo, estava associada ao solstício de inverno para o Império Romano, só muitos séculos depois é que ela passou a integrar o calendário cristão com este significado.

O presépio é a representação de uma cena clássica carregada de simbologias e reproduzida há vários séculos por artistas com técnicas e estilos distintos. O que não pode faltar é a união dos três personagens principais, Jesus, Maria e José, que, eventualmente, estão cercados por ovelhas e outros elementos cênicos.

“Na arte popular, temos algumas artistas que passam por referências remetendo à arte naïf e às figurativas, sempre buscando trazer esta cena que está intimamente ligada à compreensão ocidental do que é o Natal”, explica Lucas Lassen, curador e diretor criativo da Paiol, loja especializada em artesanato de tradição e arte popular brasileira.

Para conhecer um recorte da interpretação artística dessa tradição, listamos o trabalho de três artesãs de diferentes regiões do Brasil. Confira abaixo!

Angela Sampaio – Taubaté, São Paulo

Angela Sampaio, do grupo Figureiros de Taubaté, de São Paulo, cujas criações remetem à arte naïf — Foto: Divulgação

Nascida em Taubaté, no interior de São Paulo, Angela Sampaio pertence à terceira geração da família no artesanato. Sua relação com o barro, portanto, começou na primeira infância: quando tinha por volta dos 8 anos, na década de 1960, começou a usar a argila despretensiosamente para reproduzir tudo o que via.

“Para ter com o que brincar, eu comecei a criar cachorros sentados, deitados, em pé ou se espreguiçando. Depois, passei a reproduzir as pessoas, as casas e tudo aquilo que me chamava a atenção”, conta a artesã, que, junto da mãe e dos irmãos, costumava buscar a argila às margens do rio Itaim, que corta a região do Vale do Paraíba.

Após várias décadas usando o barro para recriar cenas do cotidiano, o ofício se tornou a sua principal fonte de renda. Em seu atual portfólio, os animais continuam presentes, mas foram incluídos, sobretudo, personagens de festas populares, santos e outros símbolos religiosos.

Presépio “Chuva de Pássaros”, de Angela Sampaio, sintetiza seu portfólio formado por animais, personagens de festas populares, santos e outros símbolos religiosos — Foto: Divulgação

Suas obras remetem à arte naïf, termo francês que significa o trabalho autodidata retratando a verdade, a natureza sem artifício ou esforço, como no caso de Angela, inspirada pelos reflexos de seus sentimentos e espontaneidade.

Pertence ao grupo Figureiros de Taubaté, que, atualmente, reúne pouco mais de 20 artesãos, sua história com a confecção dos presépios também começou com sua avó, que costumava criar peças sob encomenda para religiosos e até igrejas da região. “Eu gosto mesmo é de fazer as peças pequenas. Quanto menor a obra, mais eu me encanto”, revela.

Fatinha de Olhos D’água – Alexânia, Goiás

Fatinha de Olhos D’água, de Alexânia, Goiás, usa palha de milho em suas obras — Foto: Divulgação

A história com o artesanato da mestra artesã Maria de Fátima Bastos, popularmente conhecida como Fatinha, começou ainda criança. Neta e filha de artesãs, ela cresceu vendo as duas tecendo manualmente colchas de algodão e produzindo bonecas de pano.

Por volta 7 anos, para driblar a infância humilde com criatividade, ela passou a usar a palha de milho das plantações dos arredores de Olhos D’água, vilarejo de Alexânia, no interior de Goiás, para produzir bonecas.

A profissionalização veio em 1999, após participar de uma rodada de negócios. Foram tantos os pedidos, que percebeu necessitar de ajuda. “Com isso, eu passei a ensinar vizinhos, amigos e alguns jovens da cidade”, lembra.

Tradicional presépio de Fatinha de Olhos D’água, com amarrações de palha de milho — Foto: Divulgação

Católica, algumas de suas peças que mais se destacam estão ligadas às manifestações culturais e símbolos do catolicismo. Seus tradicionais presépios, feitos a partir de amarrações da palha, são reconhecidos em todo país e fora dele. Inclusive suas santas de palha foram oferecidas como um presente do Brasil ao Papa Francisco em uma de suas visitas ao país.

Edneide Vitalino Neta – Caruaru, Pernambuco

A artesã Edneide Vitalino Neta, de Caruaru, Pernambuco, que trabalha com o barro — Foto: Divulgação

Edneide Vitalino faz parte de uma das famílias mais tradicionais da arte popular pernambucana. Neta do Mestre Vitalino, principal expoente da arte figurativa brasileira, ela começou no artesanato aos 8 anos. Desde então, não parou mais, e já são 47 anos de vida trabalhando com o barro.

A inspiração da artesã, terceira geração da família, vem do cotidiano do agreste e das vivências nordestinas. “A influência do meu avô no trabalho dos artesãos da região é muito forte, então, o que eu faço tem a mesma linguagem das peças deles. A vida no campo, os bois, as festas populares, os músicos do forró, tudo me serve de inspiração. Mas os presépios, eu aprendi com a minha mãe, que sempre esteve ligada às figuras religiosas”, conta.

Presépio de Edneide Vitalino retrata sua inspiração, que vem do cotidiano do agreste e das vivências nordestinas — Foto: Divulgação

Ao lado de seus outros 12 irmãos – todos envolvidos com a arte popular – ela tem contribuído para manter viva a tradição que transformou a região de Caruaru no maior centro de arte figurativa das Américas, reconhecida internacionalmente por figuras como o Boi, o Cangaceiro e as peças que retratam famílias retirantes.

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