Mães artesãs transmitem técnicas aos filhos e ajudam a perpetuar tradições

Passados de geração em geração, os conhecimentos novos e antigos encontram nas relações familiares uma forma de se manterem vivos

Maria Barbosa (à frente) com a filha Lucineide, que aprendeu com a mãe de 77 anos o bordado filé Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação

As mães ensinam muitos saberes aos seus filhos e, em alguns casos, até a profissão. No mundo do artesanato e da arte popular é comum encontrar quem tenha herdado o ofício da matriarca da família.

“Nós começamos pela convivência, pela observação diária e pelas brincadeiras de infância, o que mais tarde acaba nos incentivando a usar a atividade para gerar alguma renda”, conta Maria Barbosa, que aprendeu a bordar com a mãe e, após ensinar as próprias filhas, atualmente, incentiva as netas.

Obras de aço carbono da artesã Patricia Barros, que conta com ajuda dos filhos — Foto: Alexandre Disaro / Divulgação

Mas para que todo esse rico conhecimento se perpetue, é preciso que as mulheres encontrem no artesanato a sua fonte de subsistência. “É importante que as pessoas entendam que ao comprar uma peça artesanal, elas contribuem para a manutenção de famílias e comunidades inteiras”, destaca Maria.

Segundo Lucas Lassen, diretor criativo da Paiol, loja que atua há 15 anos em parceria com artesãos brasileiros, sem o retorno financeiro, a tradição pode desaparecer. “Por mais interessante e tradicional que seja a técnica, e por mais insistente que as mães sejam, os filhos e os netos acabam deixando a atividade de lado quando percebem que não conseguem viver deste trabalho”, avalia.

Veja abaixo cinco artesãs que têm suas histórias marcadas pelo artesanato e pela maternidade!

Maria Barbosa

A artesã Maria Barbosa, natural de Maceió, em Alagoas, começou a bordar aos 7 anos, seguindo os passos da mãe. Especialista em bordado filé, considerado Patrimônio Cultural Imaterial do Estado, ela transmitiu todo o seu conhecimento para as duas filhas.

Maria Barbosa aprendeu a bordar com a mãe aos 7 anos e, hoje, ensina as netas — Foto: Grupo Produtivo Luart / Divulgação

Uma delas, Lucineide Barbosa, hoje comanda o Grupo Produtivo Luart, composto por 32 mulheres especialistas na técnica que produzem, de forma coletiva, itens como bolsas, vestuários e acessórios para a casa. Mantendo a tradição, as netas de Maria Barbosa, de 16, 12 e 10 anos, já iniciaram no ofício, ajudando a manter vivo o conhecimento transmitido por tantas gerações.

Sil da Capela

A mestra Sil da Capela cresceu em Capela, Alagoas, e fugiu de casa aos 15 anos para ter Maria Cristina, sua primeira filha, que é autista. Durante os tratamentos da menina, ela participou de uma ação na qual o mestre artesão João das Alagoas, um ícone do estado nordestino, dava aulas de cerâmica para mães de crianças com deficiência.

Sil da Capela é mãe de três filhos, dois seguiram o mesmo caminho da mestra artesã alagoana — Foto: Sedetur / Felipe Brasil / Divulgação

As esculturas com figuras de jaqueiras, árvore abundante na região onde vive, tornaram-se a sua marca registrada. Atualmente, seus outros dois filhos, Andressa e Carlos, seguem os passos da mãe. “Na minha família, não sei de nenhum artesão ou artista antes de mim, mas fico feliz que os que estão vindo depois já estão no mesmo caminho, com obras espalhadas por vários lugares”, fala.

As figuras de jaqueiras de cerâmica são a marca do trabalho da artesã Sil da Capela — Foto: Alexandre Disaro / Divulgação

Fatinha de Olhos D’água

A mestra artesã Maria de Fátima Bastos, conhecida como Fatinha, cresceu vendo a mãe e a avó tecendo colchas de algodão e fazendo bonecas de pano. Para driblar a infância humilde, por volta dos 7 anos, ela começou a usar palha de milho das plantações da região de Olhos D’água, no interior de Goiás, para produzir bonecas.

Fatinha se considera mãe de vários outros que aprenderam com ela a viver do artesanato — Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação

A profissionalização veio em 1999, quando Fatinha percebeu que precisaria de ajuda para dar conta da demanda crescente. “Com isso, eu passei a ensinar vizinhos, amigos e alguns jovens da cidade”, conta. Mãe de dois filhos, ela diz que o trabalho com o artesanato é como um “filho” que lhe permitiu ser mãe de vários outros que aprenderam com ela o trabalho manual.

A mestra artesã Maria de Fátima Bastos usa palha de milho para criar esculturas — Foto: Alexandre Disaro / Reprodução

Patrícia Barros

A artesã Patrícia Barros, que vive em Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco, é filha de artesãos e artistas plásticos, e circula por ateliês desde criança. Aos 15 anos decidiu seguir carreira no artesanato, somando 42 anos de dedicação exclusiva aos trabalhos manuais.

“Comecei fazendo peças que eu via em lojas de alta decoração, mas não podia comprar devido ao preço. Fazia castiçais e, quando vi, já estava produzindo várias peças decorativas e com temas religiosos”, relembra.

Patrícia envolveu os dois filhos e o marido na produção das peças artesanais de aço carbono — Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação

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