Pequenos negócios dão cara nova à Galeria Metrópole

Ju Amorim faz parte da nova geração de empresários que transformaram o edifício, que antes abrigava agências de turismo e restaurantes, em um polo de arte, design e decoração

Mariana Missiaggia,
02/Set/2024 em: Diário do Comércio (dcomercio.com.br)

Dos muitos movimentos de revitalização que acontecem no Centro de São Paulo, alguns já estão consolidados e deram novo fôlego à região. Na República, a Praça Dom José Gaspar vive há algum tempo essa retomada com os festivais e a programação da Biblioteca Mário de Andrade, novos negócios, como o bar Gaspar, e todo o vigor da Galeria Metrópole.

Entre peças assinadas por designers, lojas de vinho, restaurantes regionais e livrarias, a Metrópole ganhou um novo público nos últimos dois anos e passou a ser frequentada por gente jovem e descolada, após enfrentar uma série de fechamentos acentuada pela pandemia.

Vivendo uma nova fase e com mais de 80% das lojas ocupadas, o endereço é agora reconhecido como polo de arte, design e decoração, além de contar com boas opções gastronômicas, que fogem do tradicional, como o Gatcha Cafe.

Juliana Amorim é uma das responsáveis por ter dado essa perspectiva mais contemporânea à Galeria. Em 2021, quando o edifício apresentava uma desocupação considerável, a designer apostou em um ambiente colorido, com placas neon e cheiro de incenso, para vender seus vasos, bancos e outros objetos pintados à mão.

Apaixonada pelo Centro, Juliana começou sua marca – a Ju Amora – no bairro de Perdizes, mas sempre esteve atenta a oportunidades na região da Galeria Metrópole. Durante a pandemia, o cenário de abandono, as muitas lojas fechadas e a pouca circulação de pessoas não pareciam favoráveis à abertura de um novo negócio.

Mesmo assim, atraída por valores de locação menores, pelo potencial de uma arquitetura inspiradora e o rico patrimônio modernista daquela região, decidiu apostar na vocação criativa do Centro.

“Me atraí por essa veia cultural e por admirar outros negócios que têm tudo a ver com o que o Centro transmite. Aqui no Centro fazemos conexões com diferentes mundos e ampliamos o acesso para as pessoas conhecerem melhor o que é produzido na cidade”, diz. 

Na mesma leva, o designer de mobiliário Bruno Niz abriu as portas do Estúdio Niz, que vende mobiliário de perfil minimalista. Ao lado de Juliana e outros empreendedores, Bruno movimenta uma série de iniciativas, como a feira Jardim Secreto, que ocorre mensalmente no prédio. O intuito é dar maior visibilidade à galeria e requalificar seu entorno como espaço cultural e de conexão com quem passa por ali.

Um ideal comum entre os que empreendem na área, como Paulo Alves, designer que ocupa a Galeria Zarvos, logo à frente da Metrópole, e que há anos se empenha em atrair colegas para o Centro. É de Paulo, por exemplo, a iniciativa de colocar a Design Week DW! em espaços do Copan e das galerias Zarvos e Metrópoles, assim como outras exposições e eventos sobre arquitetura, arte e urbanismo.

Lucas Lassen é outro empresário que foi seduzido pelo endereço. Há pouco mais de um ano, ele escolheu a Metrópole para abrir a terceira unidade da Paiol, sua loja de artesanato brasileiro inaugurada há 15 anos e que tenta desmistificar a ideia de que esse tipo de arte é elitizado. Lucas mantém a sua unidade principal na rua Fradique Coutinho, em Pinheiros, além de outra loja no shopping Center 3, na avenida Paulista. 

ÍCONE MODERNISTA

Projetada entre os anos 1950 e 1960 por Gian Carlo Gasperini e Salvador Candia, a Galeria Metrópole é um ícone da arquitetura modernista e por anos foi reduto da elite paulistana. A arquitetura do edifício foi pensada para permitir a continuidade da rua para o interior do prédio, numa espécie de convite ao pedestre, atuando como extensão da praça Dom José Gaspar.

Publicações da época destacavam o caráter inovador do edifício comercial, que oferecia um espaço interno que é continuação do externo, além de algo inédito para os padrões da época – um funcionamento vertical baseado em 14 escadas rolantes. Atributos que o colocam como precursor de muitos dos atuais shopping centers da cidade.

Entretanto, de centro comercial de luxo nos anos 1960, a Metrópole passou por um declínio a partir do final da década de 1970, quando suas lojas padronizadas deixaram de ser competitivas frente a um mercado que já demonstrava certa diferenciação. O aumento da violência na região e a criação de novos bairros de luxo também contribuíram para o esvaziamento da galeria.

Na década de 1980, com a revitalização da Praça Dom José Gaspar, o complexo ganhou algum fôlego e passou a abrigar muitas agências de turismo, lojas de conserto, restaurantes no térreo e uma casa noturna. O local ainda era muito frequentado, especialmente, por quem trabalhava na região e o utilizava como praça de alimentação na hora do almoço.

Até que vieram os anos de pandemia e, com eles, o fechamento de muitos espaços comerciais, fazendo o complexo ganhar aspecto de um lugar abandonado.

ECONOMIA CRIATIVA EM ALTA

Cercado por prédios históricos e com boa localização, restam poucas unidades disponíveis para lojistas na Galeria Metrópole, em divisões de cerca de 50 metros quadrados e alugueis, em média, de R$ 3,5 mil.

Editoras e livrarias também encontraram espaço para operar na Metrópole, com uma seleção de livros que agrada ao público principal que habita por lá – arquitetos, fotógrafos, designers e interessados em arte em geral. A IP Livros Usados é uma das que funciona no local com uma seleção de livros sobre os assuntos favoritos desse público.

Há pouco mais de um ano, a Sobinfluencia Edições funciona como livraria e também um espaço de encontros de formação política, movimentos autônomos e arte independente. A loja mais nova no local é do Instituto Socioambiental (ISA), organização que defende os direitos dos povos indígenas e exibe uma seleção de cerâmicas, cestarias e acessórios produzidos por diversas etnias.

Não muito longe dali, o movimento de resgate da Metrópole parece se repetir no Condomínio Edifício e Galeria Califórnia, que interliga a rua Barão de Itapetininga com a Praça Dom José de Barros, projetado pelos arquitetos Oscar Niemeyer e Carlos Lemos.

Assim como a Metrópole, o condomínio também experimenta uma radical mudança no perfil de seus ocupantes. Tradicionais no local, os escritórios de advocacia passaram a dividir espaço com lojas de artesanato e estúdios de artistas visuais que se transferiram para lá.

A arquitetura, o tamanho generoso dos apartamentos e até a luminosidade da região fazem com que o endereço se adapte perfeitamente às atividades dos vinte ateliês que hoje atendem no local.

IMAGENS: divulgação

Xilogravuras: o legado da cultura nordestina

O toque das mãos, o pulsar da cultura e a expressão de uma região efervescente. Isso tudo se encontra nas linhas e relevos de uma xilogravura, arte que transcende o simples ofício para se tornar um ícone cultural. 

Hoje, vamos celebrar e desvendar as profundezas deste legado que é a cara do Nordeste do Brasil, enriquecendo nossa percepção sobre essa técnica tradicional e os tesouros que ela oferece.

A arte popular em madeira

A xilogravura é uma técnica milenar de impressão onde, inicialmente, uma imagem é cuidadosamente entalhada em relevo numa placa de madeira. 

Esta processualidade artesanal, permeada de dedicação e criatividade, encontra no Nordeste brasileiro um cenário pujante. É onde se misturam folclore e realidade, criando obras que retratam cenas cotidianas, religiosidade e a fauna e flora de maneira singular, repletas de simbolismo e expressividade.

Xilogravura de cordel: narrativas visuais

A xilogravura de cordel, por sua vez, eleva a gravura em madeira a outro patamar ao vinculá-la diretamente à literatura de folhetos. 

Nesses pequenos livretos, histórias são narradas em versos, onde a capa, ornada pela xilogravura, convida o leitor ao universo lúdico e imaginativo da narrativa. No toque das páginas, sentimos a história, enquanto nossos olhos dançam pelas linhas gravadas, repletas de história e tradição.

Ícones da Xilogravura: J. Borges

José Francisco Borges, artisticamente conhecido como J. Borges, foi um artista, cordelista e poeta brasileiro, reconhecido como um dos mais renomados xilógrafos de Pernambuco. Nascido em 20/12/1935, em Bezerros, Pernambuco, e falecido em 26/07/ 2024, na mesma cidade, J. Borges deixou um legado imensurável para a cultura brasileira.

J. Borges destacou-se pela maestria na xilogravura, uma técnica que ele utilizava para retratar com alma e vivacidade a vida e a cultura nordestina. Suas obras, marcadas por um olhar profundo e ferramentas simples, criaram um diálogo artístico poderoso que ultrapassou fronteiras regionais e alcançou reconhecimento internacional. 

O cordel mais famoso de J. Borges, ‘A Chegada da Prostituta no Céu’, publicado em 1976, vendeu mais de 100 mil exemplares.

J. Borges produziu 314 folhetos de cordel e inúmeras xilogravuras, expostas em museus como o Louvre e a Biblioteca do Congresso dos EUA. Desde os anos 1990, divide seu tempo entre Bezerros e o mundo, ministrando oficinas em mais de vinte países. 

Comparado a Picasso pelo New York Times, ilustrou obras de autores renomados como Eduardo Galeano e José Saramago. Único brasileiro no Calendário da ONU (2002), recebeu prêmios como a medalha de honra da Fundação Joaquim Nabuco e a Comenda Ordem do Mérito Cultural.

O processo tradicional

Ao pensar na xilogravura, imaginamos o artesão a entalhar cuidadosamente a madeira, extraindo dela, imagens que falam. 

A escolha da madeira, o desenho a lápis, o cuidado com os golpes do formão e o arranque preciso das farpas de madeira: cada etapa é uma declaração de amor à arte responsável por produzir cada cópia única e especial, preservando a essência de uma técnica que é tão atemporal quanto fascinante.

O décor e a moda se encontram na xilogravura

E não pense que a xilogravura se limita à tradição literária. Hoje, essa forma de expressão encontrou espaço na decoração de interiores, no design de moda e até mesmo em acessórios, provando sua versatilidade e a habilidade de se reinventar. 

Quadros, estampas de roupas, bolsas e até joias se tornaram meios onde esses traços rústicos e, ao mesmo tempo, refinados, ganham vida e conectam o moderno ao tradicional.

Para vocês, apreciadores de objetos que contam histórias e emanam a essência de seus criadores, as xilogravuras são uma abordagem profundamente autêntica do artesanato brasileiro. 

Cada peça é uma jornada pela riqueza cultural e pela paleta sensorial do Nordeste, uma oportunidade única de trazer um pedacinho dessa rica tapeçaria para dentro do seu lar ou guarda-roupa.

Convido-as a explorarem mais sobre esse universo fascinante e a descobrir peças que são verdadeiras relíquias culturais. 

Visite o site da loja Paiol, onde você encontrará um vasto leque de xilogravura de cordel, peças de J Borges xilogravura e outras obras que celebram o melhor do artesanato brasileiro.

A Paiol é referência em artesanato brasileiro, unindo mestres consagrados, novos artistas e povos indígenas. Desde 2007, somos sinônimos de artesanato representativo, celebrando a diversidade e o talento nacional. Não perca a chance de se conectar com essa arte que tem tanto a dizer sobre nós.

Descobrindo o vale do Jequitinhonha através do artesanato

Mergulhar nas raízes artísticas e nas singularidades do Vale Jequitinhonha é, antes de tudo, um convite para apreciar uma das expressões mais autênticas da cultura nacional. 

Hoje, queremos apresentar a vocês uma jornada por entre as curvas da argila e os contornos da identidade mineira, onde cada peça traduz não apenas uma história, mas a essência viva de uma terra repleta de cores e tradições.

A expressão viva na argila do Jequitinhonha–MG

Em uma viagem para Minas Gerais, descobre-se que a cerâmica Vale do Jequitinhonha transcende seu papel enquanto objeto. Ela é a narrativa de uma comunidade, a voz das mulheres que moldam a vida na mesma intensidade que moldam seus barros. 

Ao contemplar cada peça, você entra em contato com séculos de uma habilidade passada de geração a geração, onde mãos habilidosas transformam a matéria-prima em arte.

O artesanato como espelho cultural

É ao vislumbrar as cerâmicas e os artesanatos que você vê refletida a alma do Vale Jequitinhonha. A geografia árida e as condições muitas vezes adversas serviram de cenário para a criação de peças que são verdadeiros testemunhos de resistência cultural. 

Do utilitário ao decorativo, do lazer à sobrevivência, cada vaso, boneca, e escultura contam parte da saga e do espírito resiliente do povo mineiro.

Uma palette de identidades

Entender a variedade de estilos dentro da cerâmica Vale do Jequitinhonha é perceber que cada artesão imprime sua assinatura, seu toque pessoal que conversa com as tradições. Não raro, figuras humanas, animais e cenas cotidianas ganham vida nas peças, pintadas com cores vivas ou mesmo preservando a simplicidade elegante do barro cozido.

O inconfundível estilo genial do Jequitinhonha

A riqueza do artesanato do Vale Jequitinhonha é tão vasta que se tornou um símbolo reconhecido país afora. 

Dons de criar, de inventar, de sonhar e de contar histórias permeiam a compleição de cada artefato. Quando você leva para casa uma dessas obras, está adquirindo muito mais do que um item decorativo; está trazendo um pedacinho da história e da cultura de Jequitinhonha MG.

Inovação na tradição

Apaixonando-se pelo artesanato mineiro, você também será testemunha de como a tradição se reinventa. Novos artistas se juntam aos mestres consagrados, infundindo suas visões contemporâneas sem perder o elo com a ancestralidade que os constitui. É uma dança harmoniosa entre o velho e o novo, o clássico e o inovador.

Se a busca por autenticidade em sua casa ou como forma de presente para alguém especial faz seus olhos brilharem, um objeto artesanal de Jequitinhonha é uma escolha certeira. Ao mesmo tempo, em que conquista olhares, ele dialoga silenciosamente sobre suas origens, falando de um Brasil profundo e genuíno.

Convidamos vocês, que nutrem esse apreço pelo trabalho feito à mão e que preza por ter em seus espaces um toque da autêntica cultura brasileira, a visitar o site da loja Paiol

A Paiol é referência em artesanato brasileiro, unindo mestres consagrados, novos artistas e povos indígenas. Caminhamos desde 2007 na missão de ser uma referência de artesanato representativo, e nosso catálogo reflete esta cuidadosa seleção que transformará sua forma de ver e sentir o artesanato.

Nós, da loja Paiol, convidamos você a explorar mais profundamente a beleza e a riqueza do Vale do Jequitinhonha. 

A arte daqui não apenas enfeita, ela conversa, ela ensina e, sobretudo, nos conecta com histórias que merecem ser preservadas e celebradas. Visite-nos e seja parte desta jornada encantadora pelo melhor do artesanato nacional.

Movimento armorial é herança do nordeste e memória artística brasileira

A vanguarda nasceu na década de 1970 como o ponto de partida para o reconhecimento de uma arte erudita puramente brasileira

Por Rafaela Freitas

16/07/2024 06h51  Atualizado há 2 semanas

Escultura ‘Uma Mulher Vestida de Sol’, de Alcione Freitas — Foto: Penellope Bianchi / Divulgação

Criado sob as asas da Universidade Federal de Pernambuco e lançado ao povo em Recife em 18 de outubro de 1970, o Movimento Armorial representa as raízes e a identidade nordestina nas artes plásticas, cênicas e até mesmo na literatura.

Liderada pelo filósofo e artista Ariano Suassuna, que teria completado 97 anos em 16 de junho deste ano, a vanguarda tem como referências-base o Quinteto Armorial; Ariano, que também era escritor; Gilvan Samico; e Mestre J. Borges, mestres da xilogravura brasileira.

“O lado encantador do movimento armorial está em sua capacidade de fazer com que os artistas locais passassem a olhar para o seu próprio cotidiano com orgulho, considerando a beleza, as mazelas, a explosão de cores, a sonoridade e a visão daqueles que vivenciam diariamente o sertão”, explica Lucas Lassen, curador de arte popular e diretor criativo da Paiol.

Segundo a historiadora da imagem, arte e cultura e mestra em História da Arte e da Cultura Vanessa Bortulucce, o termo “armorial” faz referência ao conceito francês de armoiries, que significa “armas”. Para ela, o nome evoca um conjunto de sinais e identidades nordestinas, como a fauna e flora da região.

Antonio Nóbrega, artista recifense que integrou o Quinteto Armorial, continua sendo um dos símbolos do movimento através de sua arte multifacetada — Foto: Pedro França / Wikimedia Commons

Vanessa ainda explica que mesmo para Ariano, o movimento enxergava a si com abertura para todas as vertentes artísticas, espalhando-se também pela dança, como o xaxado, frevo e reisado, passando pela cerâmica, a xilogravura, a poesia, a tapeçaria, o mamulengo (teatro de bonecos) e diversas outras formas de fazer arte.

Datado da década de 1970, o Movimento Armorial continua em ampla visibilidade até hoje. Entre os artistas em destaque citados por Lucas, Leonildo da Silva é um ceramista nascido em Alto do Moura (PE), que começou a criar peças de barro por volta dos 10 anos, retratando o cotidiano nordestino com figuras humanas, carros de boi, festas da região e outros símbolos.

“O armorial é parte da nossa vida. O cordel e as histórias são uma grande fonte de inspiração não só para mim, mas para toda a minha família, e também para outros artistas locais”, afirma ele, filho e pai de artesãos.

“Onça Caetana” é uma das obras de Leonildo da Silva. A peça é uma homenagem aos 50 anos do Movimento Armorial, que tem como referência uma figura do folclore local — Foto: Penellope Bianchi / Divulgação

Mais um dos nomes da atualidade, Alcione Freitas é pedagoga e artesã de Paulista, município de Pernambuco. Com técnicas que misturam modelagem e pintura, sua entrada no universo do movimento se deu pelo desenho, passou pela pintura e, mais tarde, migrou para o papel machê e a papietagem, que acabaram se tornando sua principal fonte de renda.

Hoje, a artista usa da reciclagem e do reaproveitamento de embalagens plásticas, garrafas pet, rolos de fitas e diferentes tipos de papel para trabalhar em suas obras.

“Inspirada pela comemoração dos 50 anos do movimento armorial, em 2020, e incentivada pela Fenearte, principal feira de arte popular do Brasil, ela começou a produzir a Boneca de Roca e o Anjo Armorial, dois elementos sempre presentes no movimento. Feitas de papel, a partir da pintura, as obras mantêm sua leveza, mas parecem ter sido produzidas em cerâmica”, diz Lucas.

Ainda, um dos nomes mais fortes do Armorial, Ariano, seu precursor, é conhecido pelo grande projeto O Auto da Compadecida, uma peça de teatro que retrata o dia a dia de João Grilo e Chicó, que, em 2000, ganhou adaptação para a televisão. “O movimento é o conceito de arte total, existente há muito tempo em várias experiências artísticas, e aqui se afirma em solo brasileiro”, finaliza Vanessa.

Como a xilogravura de cordel pode decorar o seu espaço com história e arte?

Para os apaixonados nas belezas e tradições brasileiras, já pensou em imprimir um pouco da alma do nosso país nas paredes da sua casa? 

A xilogravura de cordel, essa técnica centenária e tão carinhosamente arraigada às nossas raízes culturais, pode ser o elemento que faltava para dar identidade e charme aos seus ambientes. Vejamos como essas peças carregadas de narrativas podem transformar o seu espaço!

Uma janela para o folclore brasileiro

Ao escolher um quadro xilogravura para seu lar, você não está apenas escolhendo uma decoração, mas sim, trazendo consigo toda uma história que cada traço e cada impressão representam. 

A xilogravura de cordel é um convite visual para mergulhar nas lendas e no folclore brasileiro, revisitando diálogos e provocações típicas da arte popular.

Xilogravura: mais que uma técnica, uma narrativa visual

Certamente vocês apreciam as narrativas visuais que a xilogravura embute. E é exatamente essa dimensão da comunicação e da expressividade que torna cada xilogravura de cordel única. 

Seus traços simples e profundos conversam com quem os observa, criando uma interação que vai muito além do ornamental.

Estilo e versatilidade na sua decoração

Cada quadro xilogravura é um elemento que se destaca pela forte presença estética. Seja em meio à decoração minimalista, rústica ou moderna, a xilogravura de cordel se adapta criando um diálogo impactante com outras peças decorativas. 

Com cores geralmente em preto e branco, elas oferecem versatilidade e facilidade de incorporação em diversos estilos de ambiente.

Como escolher e combinar xilogravuras na decor

Escolher o quadro perfeito é também ouvir o que o seu coração diz. Pense sobre o que as histórias contadas pela gravura despertam em você. Assim, a obra não será apenas um item de decoração, mas também um pedaço da sua essência e dos seus valores. 

Além disso, considere o local onde o quadro será exposto. Você pode criar uma galeria de narrativas na sala de estar ou até mesmo no corredor, trazendo dinamismo visual ao seu espaço.

Dicas para preservar sua xilogravura intacta

Assim como qualquer obra de arte, a xilogravura possui suas especificidades de cuidado. Evite exposição prolongada ao sol para que o papel não amarele. 

Em um ambiente livre de umidade ajudará a preservar a qualidade do papel e da impressão. Se for necessário, consulte especialistas em conservação para manter sua peça em perfeitas condições.

Leve história e arte para casa com a loja Paiol

Estão prontos para abrirem seu lar para essa viagem pelo artesanato narrativo? A loja Paiol, desde 2007, é sinônimo de beleza e tradição quando falamos em artesanato brasileiro representativo. 

Somos referência em xilogravura, enaltecendo mestres consagrados, novos artistas e povos indígenas em nosso vasto catálogo. Cada peça conta uma história e aguarda para enriquecer seu espaço com cultura e paixão.

Visite nosso site e descubra como os quadros de xilogravura podem conversar com a alma da sua casa e com a sua própria história. 

Junte-se a essa rede de valorização da arte e da cultura brasileira. A loja Paiol está aqui para te ajudar a escolher a xilogravura que mais toca seu coração, pronto para decorar o seu espaço com história e arte. Visite-nos!

Conheça a Ecos Armoriais e os artistas que se inspiram no Movimento Armorial

publicado por: revistaSIMEcos Armoriais Destaca O Movimento Armorial Na CASACOR SP (revistasim.com.br)

Neste domingo (16), se estivesse vivo, Ariano Suassuna completaria 97 anos, e mesmo após sua partida, o criador do Movimento Armorial continua a ser uma das maiores referências nas representações artísticas do nordeste, que estão agora em exposição na Ecos Armoriais na CASACOR São Paulo 2024.

(Foto: Penellope Bianchi).

“O lado encantador do movimento armorial está em sua capacidade de fazer com que os artistas locais passassem a olhar para o seu próprio cotidiano com orgulho, considerando a beleza, as mazelas, a explosão de cores, a sonoridade e a visão daqueles que vivenciam diariamente o sertão. Os artistas aqui selecionados representam muito bem essa atmosfera”, completa Lucas Lassen, que é curador de arte popular e diretor criativo da Paiol, marca que trabalha com dezenas de artistas .

A exposição Ecos Armoriais, reúne obras de cerca de 25 artistas e designers brasileiros que, de alguma forma, se inspiram em referências do Movimento Armorial, que surgiu na década de 1970 no Recife, com o objetivo de valorizar a cultura popular do sertão.

“Nesta mostra, nós trazemos um recorte atual do nordeste, por isso, nossa premissa era de que fossem artistas diversos e que estivessem vivos e produzindo. Também buscamos trazer diferentes técnicas e manifestações visuais, com peças de design, pintura em parede, xilogravuras, poemas, entre entras”, afirma Pedro Ariel, que assina a curadoria da exposição ao lado de Rodrigo Ambrósio.

E como também somos fãs do Movimento Armorial, de Ariano Suassuna e de todos os mestres que fazem da arte e do artesanato um símbolo vivo do nosso povo, trazemos agora mais detalhes de alguns dos artistas que representam os elementos armoriais em diferentes tipologias.

Conheça alguns dos artistas que representam os elementos armoriais na Ecos Armoriais

Leonildo da Silva- Cerâmica

De Caruaru, Leonildo da Silva, 59 anos, é filho de Luiz Antônio da Silva, 89, mestre artesão que é Patrimônio Vivo do estado de Pernambuco por sua grande contribuição artística à região.

(Foto: Penellope Bianchi).

Seguindo os passos do pai, Leonildo começou a criar peças de barro por volta dos 10 anos de idade, também retratando o cotidiano nordestino, com figuras humanas, carros de boi, festas da região, entre outras coisas. Mais recentemente, incentivado pelas comemorações dos 50 anos do movimento armorial, ele passou a criar algumas obras com referências do folclore local, como a Onça Caetana, reconhecida por suas asas. “O armorial é parte da nossa vida. O cordel e as histórias são uma grande fonte de inspiração não só para mim, mas para toda a minha família e também para outros artistas locais”, afirma ele, que tem três filhos também artesãos e se anima com a possibilidade de começar a ensinar os netos.

Alcione Freitas- Papietagem

Nascida em Recife, Alcione Freitas, 43 anos, é a única na família a viver da arte.Sua entrada neste universo se deu pelo desenho, passou pela pintura e, mais tarde, migrou para o papel machê e a papietagem, que acabaram se tornando sua principal fonte de renda.

(Foto: Penellope Bianchi).

Com técnicas que misturam modelagem e pintura, ela costuma aproveitar resíduos sólidos, fazendo a reciclagem e reaproveitamento de embalagens plásticas, garrafas pet, rolos de fitas e diferentes tipos de papel. Inspirada pelas comemoração dos 50 anos do movimento armorial (em 2020) e incentivada pela Fenearte, principal feira de arte popular do Brasil, começou a produzir a Boneca de Roca e o Anjo Armorial, dois elementos sempre presentes no movimento. Feitas de papel, a partir da pintura, as obras mantêm sua leveza, mas parecem ser produzidas em cerâmica. “Além do Suassuna, eu gosto muito da Zélia de Lima, esposa dele, e do Xilogravurista Gilvan Samico, outra grande referência ao lado de Ariano”, completa.

Mestre Joaquim de Tracunhaém- Cerâmica

Nascido em Tracunhaém, no interior do Pernambuco, Joaquim Alves Pereira começou no artesanato por influência familiar. Segundo ele, a modelagem do barro está presente na família desde sua bisavó, que produzia panelas. Reconhecido como um dos principais artistas pernambucanos na arte do barro, ele começou ainda na infância e desenvolveu um estilo próprio capaz de diferenciá-lo, sobretudo com a criação da Árvore da Vida, peças que retratam figuras religiosas em uma árvore.

(Foto: Penellope Bianchi).

Joaquim também produziu cerca de 200 esculturas para o Castelo Armorial, construção inaugurada em 2017, que fica na cidade de São José do Belmonte e que exalta o movimento e o trabalho de artistas ligados a esta corrente artística. Mais recentemente, a a pedido de Lucas Lassen, da Loja Paiol, ele retomou diversos personagens como a imagem de Nossa Senhora, o Diabo, a Onça, entre outras peças que estão diretamente ligadas ao folclore sertanejo.

Bacaro Borges-Xilogravura na Ecos Armoriais

Filho caçula de J. Borges, Bacaro Borges, começou a produzir as primeiras matrizes e impressões por volta dos 5, com auxílio do pai e dos irmãos mais velhos. Com seu próprio ateliê, embora ele tenha o próprio pai como principal inspiração, ele também gosta de ressaltar as diferenças entre suas produções. “O que nos diferencia é a vivência. Parte da arte do meu pai apresenta histórias contadas há mais de 60 anos. E mesmo que eu tenha um traço que retrata o nordeste de forma muito parecida com a dele, percebo que tenho inspiração no hoje, nas demandas sociais, na política e outros temas mais atuais”, revela o artista.

(Foto: Denilson Machado).

Uma de suas obras mais recentes retrata o encontro de J. Borges com Suassuna, dois grandes expoentes que têm utilizado diferentes técnicas artísticas para deixar o nordeste marcado na cultura e no imaginário popular brasileiro. A obra, que foi feita a pedido de Lucas Lassen, curador de arte popular, tem uma tiragem de apenas 100 unidades.

Artesanato indígena, no PA, atrai empresários para intercâmbio cultural que movimentou R$ 85 mil

Indígenas Assurini receberam empresários dos setores de decoração e artesanato para imersão cultural na aldeia. ‘Assumiram total autonomia’, diz antropóloga.

Por g1 Pará — Belém
24/05/2024 12h44  Atualizado há 3 dias

Povo Assurini, no Pará, aposta em intercâmbio cultural com empresários dos setores de decoração e artesanato. — Foto: Paiol / Divulgação

Indígenas do povo Asurini, no Pará, estão abrindo a comunidade tradicional para que empresários dos ramos de artesanato e decoração façam imersão cultural. A ideia movimentou R$85 mil durante o Primeiro Encontro de Negócios Indígenas do Médio Xingu, realizado no início de maio.

Foram dez representantes de empresas participantes na iniciativa, idealizada por Ricardo Pedroso. “No final de 2023, fui procurado pela liderança da Aldeia ITA.aka para ajudá-los a organizar alojamentos dos Jogos Indígenas. Com isso, tive a ideia de convidar alguns dos principais empresários desta cadeia do artesanato a fim de incentivar a compra de peças artesanais, permitindo a geração de renda para a aldeia e a conexão entre produtores e compradores”, ele explica.

O evento buscou realizar novas parcerias entre indígenas e o representantes do mercado, além de promover a sustentabilidade por meio da produção artesanal. O encontro ocorreu simultaneamente à segunda edição do Intercâmbio Cultural do Povo Asurini, que reuniu outras etnias da região para competições esportivas, troca de saberes e fortalecimento de identidades indígenas.

A antropóloga e arqueóloga Fabíola Andréa Silva, professora do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (USP), acompanhou toda a viagem. A doutora explica que o ponto alto do encontro foi a organização da etnia na comercialização dos trabalhos de artesanato.

“Esta foi a primeira vez que os vi tendo total autonomia na formação dos preços, na negociação e na gestão de tudo o que estava acontecendo”.

Silva, que acompanha os indígenas Asurini há cerca de 26 anos, pontua que o processo de autonomia “é de extrema importância, porque além de contribuir para a geração de renda e para sustentabilidade da etnia, a ação também ajuda a incentivar a transmissão dos saberes artesanais para os mais jovens da aldeia, estimulando que a tradição do feito à mão se mantenha ao longo das próximas gerações”.

Arte indígena atrai empresários dos setores de decoração e artesanato para imersão cultural no Pará. — Foto: Paiol / Divulgação

Os participantes do intercâmbio cultural passaram oito dias imersos na região, partindo de Belém para Altamira. Depois, com mais duas horas de barco pelo rio Xingu, até chegar à aldeia ITA.Aka, onde ficaram hospedados. Eles também puderam ter contato com outras etnias, como os Paracanã, os Arara, os Kayapó e os Araweté.

Para a construção dos alojamentos nos quais os empresários ficaram hospedados, o grupo investiu cerca de R$15 mil, que serviram para a compra de materiais e para serviços de construção.

Como contrapartida, o espaço abrigará uma escola com três salas de aula dentro da aldeia que, além de oferecer formação formal, também deve funcionar como espaço para reforçar e fortalecer tradições da etnia.

“A vivência da cultura in loco nos permite trazer a história daquelas peças com maior profundidade. A experiência nos ajuda a entender melhor como os trabalhos são feitos e o contexto da produção”, comenta Lucas Lassen, fundador e diretor criativo de uma marca parceira de mais de 400 artesãos e grupos de artesanato pelo país.

Filtros de barro antigos e contemporâneos mantêm viva a tradição brasileira

A peça que virou ícone nacional ganha novas cores, formatos e desenhos que ajudam a mantê-la viva nos lares brasileiros

Por Ana Sachs

15/05/2024 06h48  Atualizado há um dia

O filtro de barro faz parte da cultura brasileira e vem ganhando roupagens diferentes — Foto: Da’Terra Cerâmica, Alexandre Disaro e Amantiquira / Divulgação

Referência nas casas brasileiras, o filtro de barro já faz parte da cultura nacional e, atualmente, deixa o tradicional tom natural para ganhar novos designs, cores e formatos. Simples e funcional, ele surgiu na virada do século 19 para o 20 e, embora não se tenha registro quem o criou, sabe-se que imigrantes portugueses e italianos trouxeram as primeiras velas para filtrar água ao país.

“Naquela época, os filtros eram produzidos de metais e as velas eram feitas de diferentes pedras porosas. Porém, em algum momento, no interior de São Paulo, perceberam que as jazidas de argila da região de Ribeirão Preto ofereciam um excelente material para potes de cerâmica – peças tradicionais usadas para armazenar água. A partir daí, começam a desenvolver os filtros mais populares”, revela Lucas Lassen, diretor criativo da Paiol, loja especializada em objetos com história.

Devido ao seu baixo custo, o filtro de barro se popularizou pelo Brasil como uma solução para reduzir a incidência de doenças causadas pelo consumo de água contaminada. Ele também fez sucesso por manter o líquido sempre fresco graças às propriedades do barro, que facilitam a evaporação e manutenção de temperatura na parte interna.

“Neste processo, os artesãos começaram a incluir suas identidades nestas peças que, hoje, ganham várias interpretações artísticas inspiradas no cotidiano e em elementos que acabam sendo uma expressão da cultura local”, comenta Lucas.

Abaixo, conheça quatro regiões que têm mantido viva a tradição brasileira dos filtros de barro atualmente:

Jaboticabal, no interior de São Paulo

Com tons de terracota e linhas vermelhas, filtro São João é o mais popular nas casas brasileiras — Foto: Cerâmica Stéfani / Divulgação

A cidade na região de Ribeirão Preto abriga a sede da fábrica que popularizou o uso dos filtros de barro no Brasil. A Cerâmica Stéfani foi fundada em 1947 e é a responsável pelo produção do famoso filtro São João.

A peça de linhas curvas, tom de barro e listras vermelhas se tornou um ícone nacional. Algumas características da produção – que começou de forma manual – se mantêm firmes há quase 8 décadas, mas, hoje, o processo inclui etapas industriais para manter a qualidade das peças.

Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais

Os filtros do Vale do Jequitinhonha recebem pinturas florais ou têm formato de cacto — Foto: Alexandre Disaro / Divulgação

Uma das regiões mais necessitadas do Brasil abriga também um dos principais redutos de artesanato do país, com famílias que vivem da arte há cerca de seis gerações. Além de utilitários e peças decorativas de cerâmica, destacam-se na produção local os filtros de barro com temas florais e volutas (ornamento em espiral).

As peças têm como característica principal a pintura com pigmentos naturais, que segue uma paleta de cores extraída das diferentes tonalidades de barro da região. O famoso filtro em forma de cacto é produzido no Vale do Jequitinhonha e surgiu de uma parceria entre designers e artesãos. As peças podem ser encontradas na Loja Paiol.

Serra da Capivara, no Piauí

Os filtros da Serra da Capivara, no Piauí, têm desenhos que remetem a pinturas rupestres — Foto: Amantiquira / Divulgação

A região que abriga o Parque Nacional Serra da Capivara, o maior conjunto de sítios arqueológicos das Américas, também é um polo de cerâmica. Em 1994, a Cerâmica Artesanal Serra da Capivara foi fundada no município de Coronel José Dias, visando trazer visibilidade ao parque e às suas pinturas rupestres.

À frente da iniciativa esteve a arqueóloga Niéde Guidon, que descobriu as relíquias antigas. Hoje, os desenhos se tornaram marca das cerâmicas locais e aparecem em pratos, copos, jarras, vasos, panelas e nos famosos filtros de barro, que podem ser encontrados na loja Amantiquira.

Recreio, em Minas Gerais

Recreio, em Minas Gerais, retomou a tradição artesanal local com uma nova estética — Foto: Da’Terra Cerâmica / Divulgação

A cidade na zona da mata mineira já foi um polo industrial de cerâmica e uma das principais regiões produtoras de filtros de barro do país. Atualmente, boa parte das fábricas fechou as portas, mas as amigas de infância Giany Andries e Keyla de Morais resolveram resgatar a antiga tradição. Há cerca de 3 anos, elas abriram o ateliê Da’Terra Cerâmica.

Com uma produção menor de utilitários de cerâmica, os filtros se destacam por sua estética que ressalta os elementos da natureza, como carpas, ipês, folhas de bananeira, e figuras religiosas. As cores chamativas das peças, feitas a partir da modelagem com as mãos e o torno manual, devem-se a um processo natural de pigmentação e vitrificação.

Artesanato se torna a principal fonte de renda de diversas etnias

Tendo os materiais naturais como os principais pilares de sua produção, algumas etnias são reconhecidas nacional e internacionalmente

Da Redação / portald24@diarioam.com.br
Publicado em 17 de abril de 2024 às 06:30

Manaus – Com a segunda maior população indígena do mundo de acordo com o IBGE, o Brasil conta com aproximadamente 900 mil indígenas, mas ainda é o maior em número de etnias. São 305 povos espalhados por todas as regiões do país e falando cerca de 274 línguas. Dentre elas, algumas utilizam seus saberes e ofícios tradicionais para conquistar independência e para gerar uma renda que acaba sendo crucial para a proteção de seus territórios e para a manutenção de seus costumes.

(Foto: Divulgação)

“Para muitas dessas etnias, o artesanato tradicional transmitido de geração a geração, tem sido uma ferramenta de fortalecimento das suas identidades. É por meio do fazer manual que eles têm conseguido não só manter vivas as suas tradições, mas também têm levado educação formal para as aldeias, têm tido mais acesso à saúde e também têm acessado bens e ferramentas que facilitam o dia a dia da aldeia, permitindo que eles tenham mais tempo para seus afazeres tradicionais”, revela Lucas Lassen, diretor da Paiol, marca que trabalha com produtos de cerca de 50 comunidades indígenas.

Artistas e artesãos da etnia Mehinaku, que tem uma população aproximada de 300 pessoas divididas em quatro aldeias, conquistaram total autonomia graças à sua extensa produção de bancos, redes e esteiras. “Aprender a lidar com o dinheiro foi uma das formas que encontramos de manter a nossa cultura viva. Para nós, esse processo começou ainda na década de 1990, quando nossos líderes viram que havia interesse comercial nas peças que produzimos e, ao invés de só fazer trocas por outras mercadorias, passamos a vender e oferecer o nosso artesanato em lojas de grandes cidades como Brasília e São Paulo”, revela o artesão e artista Kulikyrda Mehinaku, que nos últimos anos viu uma valorização dos trabalhos feitos por sua família.

Tendo os materiais naturais como os principais pilares de sua produção, algumas etnias são reconhecidas nacional e internacionalmente por conta de sua produção artística. “São panelas, redes, bancos e acessórios que continuam fazendo parte do cotidiano deles, mas que também são tidas como grandes obras de artes presentes em galerias, coleções particulares e projetos de decoração”, completa Lassen.

Na semana em que se comemora o Dia Nacional dos Povos Indígenas, celebrado em 19 de abril, conheça quatro etnias brasileiras que se destacam por seu exímio trabalho na cerâmica, madeira, palha e nos acessórios.

Baniwa – Cestaria

Com a fibra de arumã tingida, os Baniwa desenvolve trançados com grafismos próprios – Fotos Carol da SIlva (esq.) e Penelope Bianchi (dir.)

Localizado no noroeste amazônico, em uma região que se estende pelas fronteiras do Brasil com a Colômbia e a Venezuela, o povo Baniwa tem a fibra de arumã – uma espécie de cana – como principal matéria-prima. No mundo das artes, eles ganham destaque pelas cestarias, que ganham trançados com grafismos que fazem referência às suas pinturas corporais utilizadas em rituais. Por conta do arumã, que é maleável, mas naturalmente mais seco que outras fibras, as peças ganham uma certa rigidez, o que garante cestos em formatos harmônicos e curvilíneos. Para comercializar seus trabalhos, eles criaram a marca Arte Baniwa, uma parceria da OIBI (Organização Indígena da Bacia do Içana), a FOIRN (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro) e o ISA (Instituto Socioambiental).

Mehinaku – Bancos e Redes

O artesão Kulikyrda Mehinaku começou no artesanato ainda na adolescência – Fotos Lucas Rosin/Yankatu

Embora o Brasil tenha bancos indígenas produzidos por centenas de etnias, a produção Mehinaku está entre as mais relevantes. Localizados no Território Indígena do Xingu, no Mato Grosso, as atividades artesanais da etnia são divididas por gênero. Os homens são conhecidos pelos bancos em formatos zoomorfos, que imitam os animais da floresta. Tatus, macacos, antas, tamanduás, entre outros, ganham vida a partir de troncos de madeira. Já as mulheres, são conhecidas pelas esteiras e redes feitas com a fibra do buriti. Como toda a economia da etnia gira em torno da arte, eles têm diversificado sua produção, com acessórios e até pinturas que remetem aos grafismos da etnia.

Waurá – Cerâmica

A partir da cerâmica, os Waurá fazem panelas e potes que fazem referência à mitologia da floresta – Fotos Mariana Chama e Paiol

Também do Xingu, os Waurá (ou Waujá) têm a produção cerâmica como uma prática milenar que considera a prática como uma metáfora da identidade Waurá, sendo uma espécie de extensão de suas identidades. Suas panelas e potes em diversos tamanhos e formatos – zoomorfos ou não – ganham pinturas gráficas e lúdicas feitas a partir de pigmentos naturais como o urucum e outras plantas. Mesmo sendo consideradas obras de arte, as peças continuam sendo utilizadas no cotidiano das aldeias. “O fogo acaba apagando as lindas pinturas, mas para ele isso não é um problema, é parte do entendimento de que tudo tem um começo, um meio e um fim. Depois, eles fazem outras que, eventualmente, ficam até mais bonitas”, afirma Lassen.

Kayapó – Acessórios

Os Kayapós se destacam nos acessórios com miçangas, penas e outros materiais – Fotos Paiol + Penelope Bianchi

Localizados em uma região que se estende do Mato Grosso ao Pará, às margens de rios afluentes do rio Xingu, os Kayapós têm uma população de aproximadamente 12 mil pessoas, sendo uma das maiores etnias do país. Como o uso de roupas foi um costume adotado apenas recentemente, eles ficaram bastante conhecidos por suas pinturas, adornos e acessórios corporais. Essa característica lhes trouxe destaque na produção de acessórios, sobretudo com miçangas. Colares, brincos, pulseiras e outros acessórios ganham grafismos culturalmente ligados à etnia.


Reportagem em outros veículos:

Revista Zelo: Dia dos Povos Indígenas: descubra 4 etnias que se destacam na produção artística – Revista Zelo

Povo na Rua: Fruto do cotidiano indígena, artesanato se torna principal fonte de renda de diversas etnias – Povo na Rua

Gazeta da Semana: Dia dos Povos Indígenas: conheça 4 etnias que se destacam na produção artística – Gazeta da Semana

Jornal do Belém: Dia dos Povos Indígenas: conheça 4 etnias que se destacam na produção artística – Jornal do Belém (jornaldobelem.com.br)

Revista USE: Descubra quatro etnias indígenas cujos trabalhos se destacam na arte da decoração – Revista USE

Isso É Notícia: No Dia dos Povos Indígenas, conheça 4 etnias brasileiras que se destacam no mundo das artes – Isso É Notícia (issoenoticia.com.br)

Portal de notícias de MT: 4 etnias brasileiras que se destacam no mundo das artes, 2 de Mato Grosso; veja | RDNEWS – Portal de notícias de MT

Itaquera em notícias: Dia dos Povos Indígenas: conheça 4 etnias que se destacam na produção artística – Itaquera em Notícias (itaqueraemnoticias.com.br)

No Dia Mundial do Artesão, conheça seis artesãos que moldaram suas vidas a partir da arte

Há décadas, eles têm usado diferentes técnicas para criar peças cheias de identidade

Paiol

Celebrado no dia 19 de março, o Dia Mundial do Artesão serve para nos fazer refletir acerca da contribuição deste profissional para a formação da identidade nacional. Com técnicas e saberes que chegaram a partir da imigração ou que já nasceram aqui com os povos originários, em cada canto do país, o artesanato ganhou contornos brasileiros, assimilando características tanto dos locais, quanto das pessoas que o fazem. Neste contexto, para além da importância social e econômica deste trabalho, homenagear os artesãos é uma forma de valorizar uma riqueza que é difícil de ser mensurada, mas que é facilmente percebida por quem convive com estes grupos no dia a dia. 

“Para muitos destes artesãos, a partir da modelagem do barro, do trançado de palha, do entalhe ou da tecelagem, eles criam peças que se tornam extensões ou reflexos de si mesmos. No Jequitinhonha, por exemplo, elas criam bonecas inspiradas nas características das mulheres da região. Já no Xingu, eles produzem peças que representam não só os animais silvestres, mas também os grafismos indígenas que eles utilizam no próprio corpo em rituais e cerimônias religiosas. O valor do artesanal está justamente na possibilidade do artesão imprimir na peça as suas visões, percepções e sonhos que resultam em trabalhos repletos de identidade e originalidade”, afirma Lucas Lassen, curador e diretor criativo da Paiol, que trabalha com cerca de 400 grupos de todo o Brasil.

Abaixo, descubra seis artesãos com histórias e trabalhos que valem a pena conhecer.

Mestre Jasson

Mestre Jasson é um dos destaques do artesanato alagoano – FOTOS Carlos Guerreiro, Salvador Cordaro e Felipe Brasil

Nascido no povoado de Monte Santo, em Belo Monte, no interior de Alagoas, Jasson Gonçalves da Silva figura entre os principais artesãos brasileiros com peças em museus, galerias e grandes coleções de arte popular. Mas nem sempre foi assim. Ainda jovem, em busca de trabalho, ele se mudou para Salvador, onde exerceu diversas funções até acabar em uma produtora de cerâmica. Por lá, começou a produzir pequenas peças utilitárias, aprendendo com um amigo português. Depois de 15 anos na Bahia, ele decidiu voltar à sua terra natal e tentar continuar por lá o trabalho com a cerâmica. “Não deu muito certo, porque o barro daqui da região é muito ruim. Você faz 20 peças e aproveita duas ou três, porque depois da queima, a maioria acaba quebrando”, revela o artesão. 

Por influência de Maria Amélia Vieira, da Karandash, tradicional galeria de Maceió, por volta de 2013 ele acabou se dedicando à madeira, utilizando o entalhe e técnicas de encaixe que se tornaram sua marca registrada. “Um dia, ela chegou me contando uma história sobre um rei que teria se perdido na mata e que, para manter sua majestade, precisou construir um trono com galhos secos descartados de timbaúba, algarobeira e imburana, espécies típicas do sertão. Aquilo ficou na minha cabeça e eu passei a construir a partir da imaginação”, completa Jasson. 

Foi aí que nasceram suas cadeiras, que têm saído do sertão para ganhar o Brasil e o mundo. Além de pinturas coloridas, as peças contam com flores, estrelas, cactos e qualquer outro elemento que habite o mundo dos sonhos do artista. Pai de cinco filhos, apenas um tem seguido os passos do pai. Mas ele também tem influenciado outros parentes e amigos a seguirem pelo caminho das artes.

Mestre Antônio Rodrigues

Antônio Rodrigues produzindo a La Ursa, personagem tradicional do carnaval pernambucano – FOTO Arquivo Pessoal e Alexandre Disaro

Morador do maior centro de artes figurativas das Américas, no bairro de Alto do Moura, na cidade de Caruaru, em Pernambuco, o artesão Antônio Rodrigues segue o legado deixado por seu pai, Zé do Caboclo que ao lado dos Mestres Vitalino e Manuel Eudócio, foi responsável por algumas das obras mais representativas do sertão nordestino. Antônio, que começou no ofício como ajudante no ateliê de seu pai fazendo pinturas e preparando a matéria-prima, fez a primeira peça aos 15 anos e, desde então, nunca mais parou. 

Inspirado pela estética, fauna e flora do agreste e pelo cotidiano da vida rural, ele já criou peças com projeção nacional e internacional. Ele foi um dos artesãos brasileiros convidados para representar a arte popular brasileira no Ano do Brasil na França, que aconteceu em 2005. Além disso, uma de suas obras mais icônicas, que retrata um engenho de rapadura, é parte do acervo do Museu do Pontal, no Rio de Janeiro. Antônio também é um dos artesãos que utiliza o barro para representar a La Ursa, personagem tradicional do carnaval pernambucano. “O que me inspira é o meu quintal, as ruas, as pessoas e tudo o que se encontra por aqui”, completa o artesão. 

Antônio é casado e divide o ateliê com Maria Luci, com quem teve quatro filhos, e que é responsável pela pintura de suas peças. Atualmente, Amanda, a terceira filha do casal, também segue na mesma profissão levando adiante a tradição familiar nas artes.

Anaisa Rosa

Anaísa é a quarta geração da família no artesanato – FOTOS Theo Grahl e arquivo pessoal

Filha, neta e bisneta de artesãos, Anaisa Rosa está no artesanato desde os 9 anos de idade. Hoje, aos 27, e parte da quarta geração da família na profissão, ela integra a equipe da Associação de Artesãos de Santa Brígida, criada por seu avô, José Valdo Rosa, na cidade de Santa Brígida, no interior da Bahia. Por lá, eles trabalham com duas técnicas: o trançado da fibra de Licuri e o entalhe em madeira. Seu avô foi o responsável por criar a associação, que hoje conta com pouco mais de 30 pessoas, muitas delas sendo primos, irmãos e cunhados que chegam à família já entrando no contexto do artesanato. 

A fibra de licuri é utilizada para produzir peças utilitárias e decorativas, como cestas, porta-joias e fruteiras. Já a partir do entalhe na umburana – madeira nativa da região – eles criam pássaros inspirados no Galo de Campina, também conhecido como Cardeal-do-Nordeste. “Aqui é mais comum que os artesãos se dediquem mais a uma técnica ou outra, mas eu acabei aprendendo a fazer os dois, tanto o entalhe, quanto o trançado”, revela a artesã.

Nenê Cavalcanti

Nenê Cavalcanti em seu ateliê, em João Pessoa, na Paraíba, e uma de suas peças – FOTOS Arquivo pessoal e Theo Grahl

Dentre os principais nomes do estado da Paraíba nas artes plásticas, Nenê Cavalcanti foi a primeira de sua família a enveredar por este mundo. Filha de um agricultor e uma dona de casa, ela conta que seus pais – devido à simplicidade – não gostavam da ideia de ter um filho artista. “Eles não incentivavam nem um pouco quando eu era criança, porque eles queriam que nós tivéssemos um trabalho formal, de preferência na roça. Mas mesmo assim, eu já criava pequenas peças com barro”, revela. 

Mais tarde, nos anos 1970, ela se mudou para João Pessoa e acabou estudando enfermagem, visto que perdeu o prazo para a prova do curso de Artes. Quando foi ingressar na área, passou a utilizar suas habilidades artísticas para trabalhar com crianças com deficiências, o que reacendeu seu interesse por se tornar artista. Desde seu retorno à faculdade no final da década de 1970 e começo de 1980, ela nunca mais parou de trabalhar com o barro e a cerâmica. 

Hoje, com um trabalho que se espalhou pelo mundo em coleções particulares, eventos e exposições, suas obras estão fortemente ligadas ao universo feminino. Mulheres cheinhas, de diferentes cores e texturas de cabelo fazem parte de seu portfólio. Outro destaque fica para seus anjinhos deitados sobre as próprias pernas, que fazem referência à posição atípica que sua filha, Juliana, dormia quando bebê.

Maraki Waurá

Maraki, que entrou na profissão por influência dos pais, trabalha com diversas técnicas, mas se destaca na cerâmica – FOTO Arquivo Pessoal e Paiol/Divulgação

Filho de artesãos, Maraki Waurá (ou Waujá), é parte de uma das etnias indígenas que mais se destacam na produção artesanal brasileira, a Waurá. Reconhecidos majoritariamente pela cerâmica, com a qual produzem peças utilitárias que são verdadeiras obras de arte, eles habitam o Território Indígena do Xingu, no Mato Grosso, próximos a outras etnias com as quais dividem outras técnicas como o entalhe da madeira, o trançado de palha e o trabalho com as miçangas. 

Trabalhando há mais de 20 anos como artesão, Maraki mantém a tradição de seu povo, produzindo panelas, potes e vasos zoomorfos – que imitam as formas e características dos bichos da floresta – além de criar outros elementos utilizados em rituais e cerimônias religiosas. “Mais do que ser a principal fonte de sustento da nossa aldeia, o artesanato é parte da identidade do indígena, ele é ferramenta de trabalho, é onde colocamos o alimento, onde sentamos e dormimos. É praticamente uma extensão do que nós somos”, completa o artesão.

Zezinha

Zezinha cria peças utilitárias e bonecas se inspirando nas mulheres da região do Jequitinhonha – FOTOS Arquivo Pessoal e Alexandre Disaro

Seguindo a tradição da maioria das artesãs do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, Maria José Gomes da Silva, a Zezinha, começou no artesanato ainda criança, aos 11 anos de idade, ajudando sua mãe, a também artesã Maria Gomes. “No Vale, a gente já nasce neste universo artesanal. Nossas mães, avós, bisavós e tias estão há várias décadas modelando a vida no barro”, afirma Zezinha, que também acabou influenciando a escolha profissional das duas filhas, Aline e Cláudia. 

Assim como outras mulheres de sua comunidade, seu trabalho está fortemente ligado à uma infância sem brinquedos que a estimulou a usar o barro para explorar sua criatividade e a ludicidade, sobretudo na criação de bonecas. Ao longo destes mais de 40, ela tem feito peças utilitárias e decorativas, como vasos, flores, filtros e muitas outras. Mas sua predileção pelas bonecas a transformou em uma artista que tem peças em coleções de várias partes do mundo, com obras na sede da Organização das Nações Unidas – ONU, em Nova Iorque, e na coleção pessoal de Nicolas Sarkozy, ex-presidente da França. 

Hoje, aos 55 anos e com uma produção propositalmente mais devagar, ela conta com a ajuda do marido, Ulisses, na comercialização e logística das peças.