Do Xingu ao Sertão: conheça cinco etnias indígenas e seu artesanato

No Dia dos Povos Indígenas conheça grafismos, cestarias e esculturas que revelam a força cultural, espiritual e econômica dos nossos povos originários

Texto: Bacuri Comunica | Fotos: Penellope Bianchi, Theo Grahl e Divulgação

Bichos de madeiram, da etnia Terena. Foto: Penellope Bianchi

Celebrado em 19 de abril, o Dia Nacional dos Povos Indígenas é uma oportunidade não apenas para refletir sobre os direitos e a luta dos povos originários, mas também para exaltar a riqueza de suas expressões culturais. Dentre elas, uma das mais pulsantes é o artesanato, que se destaca como símbolo de resistência, identidade e cada vez mais como uma ferramenta de independência e de proteção socioeconômica. 

Considerando técnicas ancestrais e que refletem sua profunda conexão com a natureza, o artesanato indígena atravessa gerações, ganhando formas principalmente a partir da cerâmica, das fibras naturais e da madeira. Hoje, mais do que uma herança cultural, a produção artesanal tem se consolidado como principal fonte de renda para muitas comunidades.

O artesanato está entre as ferramentas mais poderosas na proteção das comunidades indígenas. Além de manter vivas as tradições, ele fortalece a autoestima coletiva, estimula a permanência dos jovens nas aldeias e contribui para a sustentabilidade dos territórios. Por meio do próprio trabalho, essas populações conseguem acessar educação, saúde e investir em melhorias para o dia a dia da aldeia, sem abrir mão de sua identidade. O artesanato tem sido um elo entre o passado e o futuro, e tem lhes ajudado a equilibrar o modo de vida tradicional e as necessidades contemporâneas”, afirma Lucas Lassen, diretor e curador da Paiol, marca que trabalha com cerca de 50 comunidades indígenas em diferentes regiões do país.

Embora estejamos atrás no México em termos de tamanho da população indígena, ainda temos a maior diversidade étnica do planeta, com cerca de 305 povos indígenas brasileiros que falam mais de 270 línguas. E entre eles, diferentes comunidades têm se destacado por suas habilidades artesanais na produção de objetos tanto utilitários, quanto decorativos. Conheça algumas das etnias abaixo. 

Assurini | Grafismos que contam histórias

Banco Assurini. Foto: Penellope Bianchi

Originários da região do médio Xingu, no Pará, os Assurini preservam uma das expressões visuais mais potentes entre os povos indígenas brasileiros: seus grafismos. Presentes em pinturas corporais, cerâmicas e principalmente em peças de madeira — como bancos, utensílios e esculturas —, os traços geométricos coloridos carregam significados profundos e são passados transmitidos entre gerações. Cada linha, cada cor e cada figura tem um sentido e uma relação com o universo da etnia. Nos últimos anos, o trabalho do povo Assurini tem ganhado espaço em feiras, galerias e exposições, levando suas histórias para além do território tradicional. É o caso do Banco Assuri, que é esculpido em uma única peça de madeira, com um assento côncavo e ovular e pintado com grafismos tradicionais.

Baniwa | A arte ancestral do trançado

Cestaria Baniwa. Foto: Penellope Bianchi

No noroeste da Amazônia, onde se encontram as fronteiras entre Brasil, Colômbia e Venezuela, o povo Baniwa domina com maestria a cestaria feita com a fibra de arumã. As peças, entre cestos, paneiros e balaios, recebem grafismos próprios com a palha tingida que refletem os desenhos usados nos rituais do povo. O trançado minucioso revela uma técnica refinada que dá forma e resistência às peças. Para fortalecer a autonomia econômica das comunidades, foi criada a marca Arte Baniwa, resultado da articulação entre organizações indígenas e o Instituto Socioambiental – ISA.

Kimbiwá — o legado vivo do Mestre Bezinho

Praiá, de Mestre Bezinho. Foto: Penellope Bianchi

Do sertão de Pernambuco vem um dos grandes nomes da arte indígena contemporânea: Mestre Bezinho, da etnia Kimbiwá. Reconhecido por sua habilidade em trabalhar com madeira e outros materiais naturais, ele transformou o fazer tradicional em obras que percorrem o Brasil e o mundo. Seus bancos, esculturas e objetos utilitários misturam estética e simbolismo, sempre enraizados na espiritualidade e no cotidiano do povo Kimbiwá. Uma de suas peças mais emblemáticas, é Praiá, figura mítica e religiosa cultuada por diversas etnias indígenas. Atualmente, com sua produção, o mestre inspira jovens artesãos e fortalece a transmissão dos saberes em sua comunidade.

Terena — versatilidade e expressão em diversas linguagens

Terena — versatilidade e expressão em diversas linguagens

Bichos de cerâmica da etnia Terena. Foto: Penellope Bianchi

Distribuídos principalmente pelos estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e São Paulo, os Terena são conhecidos por sua versatilidade no artesanato. Eles trabalham com diferentes matérias-primas como cerâmica, madeira, palha, sementes e miçangas, produzindo peças que vão de utensílios domésticos a adornos e esculturas. Essa multiplicidade é reflexo da capacidade de adaptação e da riqueza cultural do povo Terena. Muitos dos produtos têm ganhado espaço em circuitos de arte e design, sobretudo as peças que representam a fauna brasileira.

Yanomami — cestarias que traduzem o modo de vida na floresta

Cestaria Yanomami. Foto: Theo Grahl

Habitando uma das maiores áreas de floresta tropical preservada do mundo, na região entre o norte do Brasil e a Venezuela, os Yanomami mantêm um modo de vida profundamente ligado à natureza. Suas cestarias, feitas com cipós e fibras nativas, revelam a sabedoria do manejo tradicional e a importância da floresta para a sobrevivência e espiritualidade do povo. As peças são utilizadas no cotidiano das aldeias, mas também ganharam reconhecimento por sua beleza e funcionalidade.

Do Xingu ao Sertão artesanato ganha protagonismo como símbolo de resistência indígena


No Dia dos Povos Indígenas conheça grafismos, cestarias e esculturas que revelam a força cultural, espiritual e econômica dos nossos povos originários

Celebrado em 19 de abril, o Dia Nacional dos Povos Indígenas é uma oportunidade não apenas para refletir sobre os direitos e a luta dos povos originários, mas também para exaltar a riqueza de suas expressões culturais. Dentre elas, uma das mais pulsantes é o artesanato, que se destaca como símbolo de resistência, identidade e cada vez mais como uma ferramenta de independência e de proteção socioeconômica. 

Considerando técnicas ancestrais e que refletem sua profunda conexão com a natureza, o artesanato indígena atravessa gerações, ganhando formas principalmente a partir da cerâmica, das fibras naturais e da madeira. Hoje, mais do que uma herança cultural, a produção artesanal tem se consolidado como principal fonte de renda para muitas comunidades.

“O artesanato está entre as ferramentas mais poderosas na proteção das comunidades indígenas. Além de manter vivas as tradições, ele fortalece a autoestima coletiva, estimula a permanência dos jovens nas aldeias e contribui para a sustentabilidade dos territórios. Por meio do próprio trabalho, essas populações conseguem acessar educação, saúde e investir em melhorias para o dia a dia da aldeia, sem abrir mão de sua identidade. O artesanato tem sido um elo entre o passado e o futuro, e tem lhes ajudado a equilibrar o modo de vida tradicional e as necessidades contemporâneas”, afirma Lucas Lassen, diretor e curador da Paiol, marca que trabalha com cerca de 50 comunidades indígenas em diferentes regiões do país.

Embora estejamos atrás no México em termos de tamanho da população indígena, ainda temos a maior diversidade étnica do planeta, com cerca de 305 povos indígenas brasileiros que falam mais de 270 línguas. E entre eles, diferentes comunidades têm se destacado por suas habilidades artesanais na produção de objetos tanto utilitários, quanto decorativos. Conheça algumas das etnias abaixo. 

Assurini | Grafismos que contam histórias

Originários da região do médio Xingu, no Pará, os Assurini preservam uma das expressões visuais mais potentes entre os povos indígenas brasileiros: seus grafismos. Presentes em pinturas corporais, cerâmicas e principalmente em peças de madeira — como bancos, utensílios e esculturas —, os traços geométricos coloridos carregam significados profundos e são passados transmitidos entre gerações. Cada linha, cada cor e cada figura tem um sentido e uma relação com o universo da etnia. Nos últimos anos, o trabalho do povo Assurini tem ganhado espaço em feiras, galerias e exposições, levando suas histórias para além do território tradicional. É o caso do Banco Assuri, que é esculpido em uma única peça de madeira, com um assento côncavo e ovular e pintado com grafismos tradicionais.

Baniwa | A arte ancestral do trançado

No noroeste da Amazônia, onde se encontram as fronteiras entre Brasil, Colômbia e Venezuela, o povo Baniwa domina com maestria a cestaria feita com a fibra de arumã. As peças, entre cestos, paneiros e balaios, recebem grafismos próprios com a palha tingida que refletem os desenhos usados nos rituais do povo. O trançado minucioso revela uma técnica refinada que dá forma e resistência às peças. Para fortalecer a autonomia econômica das comunidades, foi criada a marca Arte Baniwa, resultado da articulação entre organizações indígenas e o Instituto Socioambiental – ISA. 

Kimbiwá — o legado vivo do Mestre Bezinho

Do sertão de Pernambuco vem um dos grandes nomes da arte indígena contemporânea: Mestre Bezinho, da etnia Kimbiwá. Reconhecido por sua habilidade em trabalhar com madeira e outros materiais naturais, ele transformou o fazer tradicional em obras que percorrem o Brasil e o mundo. Seus bancos, esculturas e objetos utilitários misturam estética e simbolismo, sempre enraizados na espiritualidade e no cotidiano do povo Kimbiwá. Uma de suas peças mais emblemáticas, é Praiá, figura mítica e religiosa cultuada por diversas etnias indígenas. Atualmente, com sua produção, o mestre inspira jovens artesãos e fortalece a transmissão dos saberes em sua comunidade.

Terena — versatilidade e expressão em diversas linguagens

Distribuídos principalmente pelos estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e São Paulo, os Terena são conhecidos por sua versatilidade no artesanato. Eles trabalham com diferentes matérias-primas como cerâmica, madeira, palha, sementes e miçangas, produzindo peças que vão de utensílios domésticos a adornos e esculturas. Essa multiplicidade é reflexo da capacidade de adaptação e da riqueza cultural do povo Terena. Muitos dos produtos têm ganhado espaço em circuitos de arte e design, sobretudo as peças que representam a fauna brasileira.

Yanomami — cestarias que traduzem o modo de vida na floresta

Habitando uma das maiores áreas de floresta tropical preservada do mundo, na região entre o norte do Brasil e a Venezuela, os Yanomami mantêm um modo de vida profundamente ligado à natureza. Suas cestarias, feitas com cipós e fibras nativas, revelam a sabedoria do manejo tradicional e a importância da floresta para a sobrevivência e espiritualidade do povo. As peças são utilizadas no cotidiano das aldeias, mas também ganharam reconhecimento por sua beleza e funcionalidade.

Fonte: Bacuri Comunicação

Com homenagem ao mestre J. Borges, Paiol abre quinta unidade na Vila Madalena

Marca fortalece parceria com artesãos e reflete crescimento da demanda pelo artesanato

por Equipe Viva Decora 28 de março de 2025

No dia 29 de março, sábado, a Paiol, uma das principais lojas de artesanato e arte popular do Brasil, segue sua trajetória de expansão e inaugura sua quinta unidade na cidade de São Paulo. O novo espaço, localizado no bairro da Vila Madalena, na zona oeste, reforça o compromisso da marca em valorizar a produção criativa brasileira e chega com uma homenagem especial ao Mestre J. Borges, principal expoente da xilogravura nacional.

A abertura da nova loja celebra a diversidade do artesanato brasileiro ao reunir peças de mais de 400 artistas e comunidades artesanais espalhadas pelo país. O projeto, pensado por Lucas Lassen, curador e diretor criativo da marca, traz referências às xilogravuras do artista, cuja obra se tornou símbolo da cultura popular nordestina e um marco na identidade visual do cordel. Além disso, assim como em outras unidades, ele também destaca elementos presentes do Movimento Armorial, como a Onça Caetana, o Anjo e outros personagens célebres que ganham interpretações da artista Andrea Barbosa, do Ateliê Anbar.

“Nossa arte popular é um patrimônio vivo, e figuras como J. Borges – que nos deixou no último ano – são responsáveis por registrar, através de sua arte, fragmentos daquilo que nos une enquanto brasileiros. São esses registros que ficam na memória coletiva e ajudam a formar a nossa identidade. É uma honra poder prestar essa homenagem a um mestre tão significativo”, completa Lassen.

Reforço na Vila

Reconhecida por sua efervescência cultural e por abrigar diversos ateliês, galerias e espaços dedicados à arte, a Vila Madalena foi escolhida estrategicamente pelo fato do bairro já ser identificado como um pólo criativo e de valorização artística em São Paulo. Para o empresário, a expansão da Paiol reflete o crescente interesse pelo artesanato e pela arte popular, que têm conquistado cada vez mais espaço na decoração, na moda e no cotidiano das pessoas. 

De acordo com Lassen, à medida que nos cercamos de telas e dispositivos tecnológicos, também cresce o desejo genuíno por mais contato com aquilo que carregue a energia viva de quem o fez. “O artesanato tem sido um elemento central nas discussões sobre brasilidade, sobre a identidade nacional e sobre o que nos torna humanos em um tempo tão digitalizado. O tema foi um dos destaques da Casacor São Paulo, em 2024, e agora do DW! Semana de Design, em 2025. Com isso, na busca pela humanidade das coisas, o feito à mão nos reconecta com o que é orgânico, carregado de história e identidade. Este é um dos motivos que tem impulsionado o crescimento da Paiol”, finaliza. 

Abertura Paiol Vila Madalena

Quando: 29 de março de 2025, Sábado, das 15h às 19h

Onde: Rua Wisard, 386 – Vila Madalena

Pet Friendly

Funcionamento: Segunda a sexta, das 10h às 20h | Sábado, das 9h às 20h | Domingos e Feriados, das 11h às 18h.

www.lojapaiol.com.br

Assessoria de imprensa :

Angelo Miguel Oliveira Lima
angelo@bacuricomunica.com

Ecos do DW! 7 Lançamentos da Semana de Design para ficar de olho

Cerâmica artesanal, têxteis inspirados no sertão e móveis que refletem a materialização do tempo se destacam da Galeria Metrópole

A DW! Semana de Design de São Paulo, que oficialmente chegou ao fim no último domingo, em 16 de março, continua reverberando. Consolidado como o maior evento urbano de design da América Latina, o evento transforma a capital paulista em um laboratório a céu aberto, com mais de 300 atividades espalhadas por oito distritos. No coração dessa efervescência, a Galeria Metrópole emerge como um dos espaços imperdíveis, reunindo até o dia 23 de março, domingo, uma programação vibrante de palestras, rodas de conversa, exposições e lançamentos de marcas como Paiol, Sandra Arruda, Satélite Studio, Studio Volanti e outras 26 marcas. Das cerâmicas do Vale do Jequitinhonha, às fachadas sertanejas transportadas para o têxtil, conheça sete coleções que colocam a galeria como uma vitrine do design brasileiro no centro de São Paulo.

Linha Experimentos | Paiol

Vasos surgiram durante experiência do Paiol LAB no Jequitinhonha – FOTOS Flávio Magalhães

Fruto do Paiol LAB, plataforma de inovação artesanal da Paiol, a Coleção Experimentos emerge como um diálogo entre o saber ancestral do Vale do Jequitinhonha (MG) e as demandas contemporâneas do mercado. A iniciativa, que visa estimular a sustentabilidade da atividade artesanal na região, traz vasos e outros objetos decorativos e utilitários que ganham formas orgânicas, texturas que convidam ao toque e padrões gráficos que reinterpretam alguns dos motivos tradicionais. Os vasos “Jaca” destacam-se por superfícies pontilhadas, acabamentos em tons terrosos e imperfeições calculadas – marcas que celebram a mão humana por trás de cada criação.

“A ideia é aproximar o mercado do processo criativo do artesão, trazendo os anseios dos consumidores para dentro do ateliê. É uma oportunidade que aumenta o repertório criativo das comunidades e a geração de renda, que é o que de fato aproxima os mais jovens e, mais do que isso, fortalece a continuidade das técnicas locais”, completa Lucas Lassen, diretor criativo da Paiol e idealizador da iniciativa.

“O Art Déco e as Paisagens do Sertão” | Sandra Arruda

Sandra transportou o grafismo arquitetônico do sertão para os tecidos – FOTO Léo Martins

A nova coleção têxtil de Sandra Arruda, O Art Déco e as Paisagens do Sertão, nasce do diálogo entre a arquitetura, o movimento Art Déco e a ancestralidade, reinterpretando a estética do sertão e suas icônicas platibandas — faixas verticais que emolduram fachadas e ocultam telhados. Inspirada pelo livro Pinturas e Platibandas, da fotógrafa Anna Mariani, Sandra traduz geometria, cor e materialidade em uma verdadeira arquitetura têxtil. Essa fusão ganha vida em estampas sobre linho, algodão e voil, além de jacquards mistos em viscose e algodão.

A paleta cromática, com tons como Amora, Azul Noite, Canário, Caramelo, entre outros, reflete o contraste entre luz e sombra, revelando uma das riquezas simbólicas do sertão. Os padrões desenvolvidos partem da geometria e do ritmo visual da paisagem sertaneja, explorando composições lineares, simetria e repetição, enquanto elementos naturais como árvores e horizontes infinitos criam contrastes orgânicos. Essa fusão ganha vida em estampas sobre linho e algodão, além de jacquards mistos em viscose e algodão.

Linha Moon | Satélite Studio para Azzurra Casa

Linha Moon foi criada para a Azzurra Casa – FOTO @marcoantoniofoto

Inspirada pelas fases da lua e pelos fenômenos da natureza — o tempo, os corpos celestes e a luz —, Nadezhda Mendes da Rocha, do Satélite Studio, criou a linha Moon. Parte da coleção Futuro Ancestral, com curadoria de Giacomo Tomazi para a Azzurra Casa, a linha traduz esses elementos em formas ovais e arredondadas, sem perder a precisão do desenho.

A ideia de passagem do tempo se manifesta em repetições e desdobramentos de formas, criando ritmos visuais e táteis. Materiais como madeira nobre, metal e tecido foram cuidadosamente escolhidos para expressar esse conceito tanto no olhar quanto ao toque. A coleção equilibra o ancestral e o contemporâneo, resultando em peças atemporais.

A linha inclui poltrona, espelhos, banquetas, mesas de apoio e penduradores. Lançada em novembro de 2024, em Teresina (PI), sede da marca, agora pode ser vista na vitrine do Satélite Studio, com vendas sob encomenda.

Mesa Três e Cadeira Pilar | André Grippi

Feitas em sucupira e jequitibá, peças reforçam a ideia de “menos é mais” – Divulgação

Caracterizada pelo rigor formal, a coleção de André Grippi inclui cadeiras e banquetas em madeira maciça, com assentos em lâmina natural ou que podem ser revestidas com tecidos EcoSimple. A Mesa Três chama atenção pela estrutura de três partes maciças e tampo redondo, dispensando travas. As linhas e acabamentos em sucupira e jequitibá reforçam a uma ideia de simplicidade elegante, ideal para ambientes contemporâneos.

Roberto Romero no Studio Cris Azevedo

Atelier-R apresenta composições que parecem flutuar e desafiam os limites entre a forma e sua própria sombra – FOTO Roberto Romero

Unindo arte, design e sustentabilidade, Roberto Romero, do Atelier-R, transforma fios metálicos em estruturas leves e suspensas, criando composições que parecem flutuar e desafiam os limites entre a forma e sua própria sombra.

Cada peça nasce de um processo criativo em três etapas: as linhas, que delineiam formas geométricas; a cor, que potencializa a imaginação; e a luz, que expande e transforma as estruturas. Mais do que objetos decorativos, suas criações interagem com o ambiente, projetando sombras dinâmicas e revelando novas perspectivas a cada olhar.

Ao reaproveitar fios e arames que antes compunham fantasias de carnaval das escolas de samba do Rio de Janeiro, Romero ressignifica materiais e preserva memórias, transformando resíduos em arte. Sua coleção celebra o equilíbrio entre tradição e inovação, convertendo elementos do passado em novas expressões visuais. As peças podem ser vistas no Studio Cris Azevedo.

Linha Eunice | Studio Volanti

Linha Eunice é inspirada no modernismo brasileiro – FOTO Roberto Leme

Em sua primeira coleção completa de assentos, composta por poltrona, banqueta e cadeiras, os designers Lucas e Roberto, do Studio Volanti, inspiraram-se no modernismo brasileiro, em especial em sua terceira fase.

Linhas retas compõem móveis imponentes, de traços marcantes e, ao mesmo tempo, confortáveis. Esse foi o ponto de partida dos criadores para o desenho da linha. Confeccionadas em marcenaria tradicional, com madeiras nobres (imbuia, sucupira, jequitibá), as peças são clássicas, podendo receber diversos acabamentos e se encaixando em praticamente qualquer ambiente.

Para homenagear um acontecimento do pós-modernismo que marcou nosso país e uma pessoa que também se mostrou significativa para as novas gerações, a linha se chama Eunice.

Cadeira Havaí e Prateleira Tempo Rei | André Carvalho

André Carvalho produz peças que materializam ações do tempo – FOTO Divulgação

Dando continuidade à investigação do designer André Carvalho sobre o tempo e inspirada na música homônima de Gilberto Gil, a Prateleira Tempo Rei  transcende a função de suporte para se tornar uma metáfora material.  Combinando cedro rosa maciço e aço corten, a peça encapsula a dualidade do tempo: a madeira, como testemunha silenciosa de décadas de crescimento; e o metal, em processo contínuo de oxidação. Sua estrutura –  com solidez na base e leveza nas prateleiras — não apenas organiza espaços, mas também provoca reflexão, contando histórias de permanência e transformação.

Já a Cadeira Havaí, desenhada para áreas externas, desafia convenções ao unir a robustez de uma estrutura metálica — disponível em cores vibrantes — à delicadeza da madeira artesanal. O encosto, fixado por pressão, remete à precisão industrial sem abrir mão do veio do manual, enquanto o acabamento resistente a intempéries garante que ela resista ao tempo. Ideal para varandas ou jardins, a peça é um convite a momentos de convivência e descontração.

Sobre a Galeria Metrópole
A Galeria Metrópole, no centro de São Paulo, é um dos polos criativos mais dinâmicos da cidade, reunindo arquitetos, designers, editoras independentes e artistas em um ambiente que valoriza a diversidade e a inovação. Ícone do modernismo desde os anos 1950, hoje abriga uma produção efervescente que transita entre cerâmica, mobiliário, escultura e pintura, promovendo conexões e lançamentos no design brasileiro. Seus espaços permanentes e eventos refletem a pluralidade da criação contemporânea, fazendo da Galeria um destino essencial para profissionais e entusiastas da área.

Sobre o DW!
A DW! Semana de Design de São Paulo é o maior evento urbano de design da América Latina e o terceiro maior do mundo no setor. Criada em 2012 por Lauro Andrade, a iniciativa promove uma ampla programação que envolve arquitetura, arte, decoração, urbanismo e inovação, conectando profissionais e o público em geral. Em sua 14ª edição, que ocorre de 10 a 16 de março de 2025, a DW! contará com mais de 300 atividades, distribuídas em oito distritos pela cidade, reunindo 125 expositores e mais de mil criativos. Com expectativa de atrair mais de cem mil visitantes, o evento reafirma seu compromisso com a criatividade e o design brasileiro, impulsionando o setor e proporcionando experiências imersivas, debates e lançamentos.

By Bacuri Comunicação
Foto: Flávio Magalhães, Léo Martins, Marco Antonio, Roberto Romero, Roberto Leme e divulgação

Sede do maior evento de design do Brasil

Galeria Metrópole destaca conexão entre artesanato e tecnologia

por Equipe Viva Decora 7 de março de 2025

Com exposições, oficinas e lançamentos, a programação acontece durante o DW! Semana de Design de São Paulo e se estende até 23 de março

Um dos principais ícones arquitetônicos de São Paulo, a Galeria Metrópole reforça sua posição como polo criativo e cultural no centro da cidade. Entre os dias 10 e 23 de março, o espaço, que abriga diversas marcas e estúdios de design, será uma das sedes do 14º DW! Semana de Design de São Paulo, dentro do Distrito Centro e Paulista, oferecendo uma programação gratuita para os amantes do design. O DW! se espalha pela cidade em 8 distritos e mais de 300 atividades.

Lucas Rosin
Galeria é uma das sedes do DW! Semana de Design de São Paulo

Com o tema Mãos e Máquinas, a edição propõe reflexões sobre a intersecção entre tecnologia e trabalho artesanal, destacando a essência humana no design. “Esta edição vem para reforçar que a tecnologia não substitui a mão humana, mas a potencializa. Mesmo sendo capaz de ampliar a nossa capacidade produtiva, é a manualidade que garante a identidade e a originalidade da criação. O Centro tem retomado seu lugar de destaque nesta discussão justamente por conta da reunião de diversas marcas e talentos da Metrópole e entorno”, revela Ju Amora, artista residente da Galeria e coordenadora Distrito Centro/Paulista do DW!

Com exposições, rodas de conversa e iniciativas que aproximam os visitantes deste debate, a Galeria Metrópole reafirma seu papel como um espaço de experimentação e diversidade cultural, reforçando o papel do centro na rota criativa da cidade. Durante o evento, o local recebe a mostra Design em Movimento, com lançamentos de 17 estúdios e criativos residentes, além da exposição Um Lugar, que reúne 50 cadeiras contemporâneas. A Paiol também apresenta o Paiol LAB, projeto colaborativo com artesãos do Jequitinhonha.

Lucas Rosin
Galeria Metrópole, no centro, reforça seu espaço como centro do design na cidade

Outras atrações incluem a Feira Jardim Secreto, focada em upcycling, as atividades da Casa Baru, reunindo mais de 50 criadores de todo o Brasil, e o projeto Publica + Risotropical, com lançamentos de livros, debates e coleção temática. O Senac, um dos patrocinadores do evento, vai realizar a Arena Senac de Conteúdo, com programação de bate-papos sobre arquitetura e design de interiores.

Confira alguns dos destaques da programação

Paiol LAB

1º andar | 10 a 23/03 | Entrada gratuita
Referência na valorização do artesanato e da arte popular brasileira, a Paiol apresenta os primeiros resultados do Paiol LAB, iniciativa que realiza laboratórios com artesãos para a criação de coleções exclusivas. “Embora este processo seja comum em outras indústrias, a Paiol Lab é uma ação que aproxima o mercado do processo criativo, trazendo os anseios dos consumidores para dentro do ateliê. A proposta é trazer coleções exclusivas para o mercado. Algo que já fazemos aqui na Paiol, mas agora de maneira mais contínua”, afirma o diretor criativo da marca, Lucas Lassen. A coleção traz vasos, pratos e outros artigos em cerâmica, feitos por artesãos do Vale do Jequitinhonha (MG).

Foto: Ricardo Guilhen

Design em Movimento

Todos os andares | 10 a 23/03 | Entrada gratuita
A exposição traça uma linha do tempo da ocupação da Galeria Metrópole pelos designers, acompanhada de um mapa interativo que localiza os estúdios nos cinco andares. A narrativa destaca momentos marcantes da história do espaço e seus participantes.

Um Lugar

3º andar | 10 a 23/03  | Entrada gratuita
Com curadoria de Carolina Gurgel e Adélia Borges, a mostra reúne 50 cadeiras brasileiras produzidas nos últimos 20 anos. Na última edição do DW!, a dupla apresentou uma seleção de bancos. A organização e expografia ficam por conta de Gabriel De La Cruz e Pedro Luna.

Casa Baru + TETO Casa

Térreo | 10 a 23/03 | Entrada Gratuita
Em sua segunda edição, a Casa Baru se une à TETO Casa para ocupar o showroom da marca no térreo da Galeria. A exposição investiga as interações entre o humano e a máquina, explorando suas tensões e possibilidades. Com mais de 50 designers participantes, a mostra ressalta a riqueza do trabalho manual em diálogo com a precisão da tecnologia digital.

Bate-papo: A Centralidade no Centro

2º andar | 22/03, das 11h às 14h | Entrada Gratuita
Com curadoria de Alê Salles e mediação de Sandra Arruda, a conversa aborda o paradoxo dos centros urbanos: ao mesmo tempo em que enfrentam degradação e esvaziamento, também são espaços de inovação, ressignificação e resistência. O talk propõe uma reflexão multidisciplinar sobre os desafios da centralidade no urbanismo, no design e na vida cotidiana.

Feira Jardim Secreto

22, 23 e 24/03, das 10h às 19h | Entrada Gratuita
Com curadoria de Cláudia Kievel, a Feira Jardim Secreto reúne expositores e palestras voltadas ao upcycling, promovendo a economia circular e o reaproveitamento de materiais no design.

Oficina de Grafite e Estamparia

14/03, às 15h | 2º andar | R$ 55,00

A designer Sandra Arruda apresenta sua nova coleção têxtil, “O Art Déco e as Paisagens do Sertão” e, além de explicar o processo criativo por trás da sua nova coleção,ela realiza uma oficina têxtil usando técnicas do grafite para criar estampas manuais. Inscrições via Sympla

Exposição Bewältigung 

Galeria Retina às 15h | 1º andar | de 15 a 23/03 | Entrada gratuita

A exposição Bewältigung, realizada pelo fotógrafo Alan Nielsen na Galeria Retina, apresenta um conjunto de obras que exploram, através da fotografia, a capacidade humana de lidar com sentimentos, refletir e aceitar a finitude. Com um título que sugere um percurso sensorial e filosófico sobre superação, as imagens dialogam com temas como efemeridade, permanência e a busca por preservar memórias, transformando-se em vestígios simbólicos do desejo de eternizar o transitório. Alan Nielsen, artista radicado em São Paulo, utiliza a fotografia como ferramenta

Circuito Design e Cultura na Publica

Publica, Subsolo | de 10 a 23/03 | Entrada gratuira

O evento, organizado pela Publica — espaço dirigido por Renan Costa Lima – é uma iniciativa que reúne encontros, debates e oficinas para discutir o papel do design gráfico na cultura brasileira, conectando criação artística, práticas profissionais e reflexões políticas. Com participantes como Dandara Almeida, Elaine Ramos, Marcelo Rosenbaum, Michele Alves, Pedro Inoue, Renan Costa Lima, Rogério Ianelli, Tereza Bettinardi e Vanessa Queiroz, a programação propõe diálogos sobre cultura visual, autoconhecimento profissional e o futuro do design em um cenário de transformações sociais.

  • 12/03: Rogério Ianelli (Sesc SP) debate gestão de projetos gráficos em grandes instituições culturais.
  • 13/03: Silvio Lorusso e Leonardo Foletto discutem trabalho digital e futuro do setor, com happy hour da Cerveja Ubuntu. Parceria: Clube do Livro do Design.
  • 15/03: Lançamento do livro “Design com Atitude” (UBU) com Marcelo Rosenbaum, Pedro Inoue e Elaine Ramos.
  • 18/03: Elaine Ramos e Tereza Bettinardi compartilham trajetórias do design gráfico à criação de editoras e projetos autorais.
  • 20/03: Vanessa Queiroz e Dandara Almeida analisam o design brasileiro pós-golpe, baseadas em iniciativas do setor.

Marcas participantes: Paiol, Pottery, André Carvalho, André Grippi, Ato, De La Cruz, Edel-Stein, Estúdio Niz, Fino Artigos, Garten, Ju Amora, Metro Objetos, Miguel Croce, Niedo Design, Pedro Luna, Playground Company, Risotropical, Sandra Arruda Design, Satélite, Studio Cris Azevedo, Studio Lopomo, Studio Volanti, Teto Casa.

Sobre a Galeria Metrópole

Galeria Metrópole, no centro de São Paulo, é um dos polos criativos mais dinâmicos da cidade, reunindo arquitetos, designers, editoras independentes e artistas em um ambiente que valoriza a diversidade e a inovação. Ícone do modernismo desde os anos 1950, hoje abriga uma produção efervescente que transita entre cerâmica, mobiliário, escultura e pintura, promovendo conexões e lançamentos no design brasileiro. Seus espaços permanentes e eventos refletem a pluralidade da criação contemporânea, fazendo da Galeria um destino essencial para profissionais e entusiastas da área.

Sobre o DW!

DW! Semana de Design de São Paulo é o maior evento urbano de design da América Latina e o terceiro maior do mundo no setor. Criada em 2012 por Lauro Andrade, a iniciativa promove uma ampla programação que envolve arquitetura, arte, decoração, urbanismo e inovação, conectando profissionais e o público em geral. Em sua 14ª edição, que ocorre de 10 a 16 de março de 2025, a DW! contará com mais de 300 atividades, distribuídas em oito distritos pela cidade, reunindo 125 expositores e mais de mil criativos. Com expectativa de atrair mais de cem mil visitantes, o evento reafirma seu compromisso com a criatividade e o design brasileiro, impulsionando o setor e proporcionando experiências imersivas, debates e lançamentos.

Assessoria de imprensa :

Bacuricomunica

Galeria Metrópole reúne o melhor do design autoral em edifício de arquitetura histórica

Com mais de 30 lojas e estúdios de design e decoração, o espaço no centro de São Paulo virou um dos novos polos criativos da cidade

Por Ana Sachs
26/01/2025 06h25  Atualizado há 2 dias

Os amplos corredores e o pátio interno tornam a Galeria Metrópole um espaço comercial agradável — Foto: Galeria Metrópole/Divulgação

Após a pandemia, o centro de São Paulo passou a viver uma nova fase, com diversas lojas e estúdios de design e decoração se instalando na região. Construída na década de 1950, a Galeria Metrópole é uma das que vive esse renascimento.

O edifício de arquitetura modernista, projetado pelos arquitetos Gian Carlo Gasperini e Salvador Candia, fica ao lado da Biblioteca Mário de Andrade e de frente para a avenida São Luís. Acima se ergue uma torre de escritórios, enquanto abaixo um grande centro comercial de 20 mil m² se distribui por cinco andares – subsolo, térreo e três pavimentos.

Os acessos generosos, os amplos corredores e o agradável pátio interno ao ar livre e repleto de verde, hoje, reúnem 23 lojas de design, arte e artesanato, além de nove escritórios de arquitetura, tornando-se um grande polo de criativos.

O pontapé inicial para a região voltar a ser atraente para esses profissionais partiu do designer Paulo Alves, que ocupou, em 2020, um espaço de 700 m² na galeria Zarvos, também na avenida São Luís. “Eu acho que o fato de eu ter tido essa coragem de colocar uma loja desse tamanho aqui abriu a porta para outros fazerem o mesmo”, aponta Paulo.

Após a pandemia, a Galeria Metrópole foi tomada por profissionais de design e arte — Foto: Galeria Metrópole/Divulgação

Com diversos comércios fechados durante a pandemia e aluguéis atraentes – além dos apelos histórico e arquitetônico do edifício –, a Galeria Metrópole começou a ser vista como uma opção para jovens talentos da cerâmica, do mobiliário, da escultura e da pintura, entre outras técnicas.

“No final da pandemia, encontrei a galeria praticamente vazia e comecei a pensar em como revitalizar o lugar. Chamei amigos para se juntarem à ideia e, aos poucos, o projeto ganhou corpo. Além disso, consegui, junto ao Design Weekend, uma parceria para trazer eventos ao centro da cidade”, conta Bruno Niz, um dos designers residentes.

Uma das primeiras a apostar na Galeria Metrópole foi a designer Ju Amora, que deixou um espaço em Perdizes e instalou seu estúdio no local em 2021.

“Ela é um grande ícone da cidade, um oásis no centro. A cena cultural de São Paulo na década de 1960 escreveu parte de sua história ali. Estar na galeria é como reviver uma porção disso e, quem sabe, escrever uma nova parte na história desse lugar e da cidade. Minha decisão de estar na galeria partiu dessa ideia romântica”, conta Ju.

A frente da loja da designer Ju Amora, instalada na Galeria Metrópole desde 2021 — Foto: Ju Amora/Divulgação

Para Ju, o maior desafio em manter seu estúdio na Galeria Metrópole é conseguir atrair o público para a região, por conta da visão estereotipada que as pessoas têm do centro. “Claro que os problemas sociais existem, mas não é uma exclusividade do centro. Eles se espalham por toda cidade, então, o desafio está em quebrar essa primeira barreira nas pessoas”, explica.

Ela é uma das grandes incentivadoras da união entre os residentes para levar eventos e feiras à galeria, rompendo esse receio inicial do público. “Em 2022, realizamos a primeira edição da Semana de Design na galeria. A partir disso, o interesse pelo espaço cresceu. A DW mostrou as possibilidades de negócios que existiam ali e isso fez bastante diferença”, relembra.

Na opinião de Lucas Lassen, curador e diretor criativo da loja de artesanato Paiol, que abriu uma unidade na Galeria Metrópole em 2022, a chegada de novas marcas, designers e artistas ao local gerou um processo natural de levar mais pessoas ao centro buscando por essas referências.

“Com isso, a galeria começa a atrair ações positivas para si e também o seu entorno, como o Design Weekend e as feiras Na Rosenbaum e Jardim Secreto. Eu acredito que a maior contribuição da Metrópole tem sido justamente o papel de protagonizar eventos e ações que levam para a região central um público que quer consumir e vivenciar arte e cultura brasileira”, destaca.

A construção modernista da década de 1950 tem projeto de Gian Carlo Gasperini e Salvador Candia — Foto: Galeria Metrópole/Divulgação

A maior circulação de pessoas também tem gerado uma grande visibilidade por parte do poder público e uma maior percepção de segurança, na avaliação de Ju. “Esse é, sem dúvida, um movimento muito importante para São Paulo. É a oportunidade de valorizar o novo e a história da cidade”, aponta a designer.

O próximo evento na galeria acontece neste final de semana, em 25 e 26 de janeiro. Em sua segunda edição, o Festival Metrópole reunirá editoras independentes, de arte impressa, expositores de discos de vinil, artistas de trabalhos manuais e de cerâmica, além de trabalhos do Coletivo Design na Metrópole, que reúne cerca de 18 marcas autorais que têm lojas no local.

“Só a partir da ocupação é que o poder público passará a olhar para o centro com mais cuidado a partir de suas necessidades. Eu acho que, neste contexto, a arte, o design, a arquitetura e a cultura brasileira podem ser ferramentas importantes no sentido de reposicionar o centro de São Paulo como este lugar que abriga e recebe todos”, acredita Lucas.

Em comemoração aos seus 61 anos, a Galeria Metrópole traz festival cultural na galeria, com programação musical e artística — Foto: Mo Araújo/Divulgação

Paulo vai além e pensa em uma união de todos os residentes da região para criar um roteiro criativo no centro paulistano. “A ideia é oferecer um lugar com vários pontos de interesse, onde as pessoas podem vir de metrô e ônibus. Você roda todo o circuito a pé e, juntos, podemos criar várias ações para atrair o público, como eventos, descontos, festivais, concursos”, sugere.

Conheça os criativos que estão hoje na Galeria Metrópole:

Subsolo

  • Jardim da Mi (@mi.jardimdami)
  • Risotropical (@risotropical)

Térreo

  • Teto Casa (@teto_casa)

1° andar

  • Studio Cris Azevedo (@studiocrisazevedo)
  • Ju Amora (@ajuamora)
  • Paiol (@lojapaiol)
  • Casa Jardim Secreto (@casajardimsecreto)
  • Metro Objetos (@ metroobjetos) + Fino Artigos (@finoartigos)
  • Pocket_ Galeriaverbo + Studio Lopomo (@ studiolopomo)
  • Galeria Retina(@galeriaretina)

2° andar

  • Um Canto lá de Casa (@umcantoladecasa)
  • Edel Stein (@edel__stein)
  • Playground Company (@_playground.co) + Sandra Arruda (@sandrarrudadesigner)
  • Studio Volanti(@studiovolanti)
  • Estúdio Niz (@estudioniz)
  • Satelite Studio (@satelite.studio)
  • Floresta no Centro – ISA(@florestanocentro)

3° andar

  • Lucas Recchia – Studio Cas (@studio.cas)
  • André Carvalho (@andre.carvalho_designer) + Estúdio Pedro Luna (@estudiopedroluna)
  • De La Cruz (@studio.delacruz) + Niedo Design (@niedodesign)
  • Miguel Croce (@miguelcroce)
  • André Grippi (@andregrippidesign)
  • ATO (@ato.design) + Garten(@g_a_r_t_e_n)

Escritórios de arquitetura

  • Studio Pedro Luiz de Marqui(@pedroluiz.demarqui)
  • BHF Estúdio (@bhf.estudio)
  • Carmela Rocha – Arqui.Expo.Ceno (@carmela_rocha)
  • Estudio Cas (@estudiocas)
  • H+F Arquitetura (@hmaisf)
  • KS.AA Arquitetura Multipotencial (@_ks.aa) + Basalto Lab. (@basalto_lab)
  • Estudio Lava (@estudiolava)
  • Estudio + 1 (@estudio_maisum)
  • Entre Escalas + Cauliflora (@entre.escalas)

Galeria Metrópole

Endereço: Avenida São Luís, 187 – República – São Paulo (SP).

De menino rico a defensor dos pobres: conheça a história de São Francisco de Assis, que se tornou um dos santos mais representados pela cultura popular

De menino rico a defensor dos pobres: conheça a história de São Francisco de Assis, que se tornou um dos santos mais representados pela cultura popular

Celebrado no dia 4 de outubro e reconhecido por sua túnica marrom, sua imagem ganha interpretações que só seriam possíveis no Brasil 

Leonildo, artesão pernambucano, representa um santo festivo, cercado por andorinhas e de sanfona na mão. Já o santo de Elizabeth Marques, do MS, segura uma pequena onça pintada ressaltando seu título de padroeiro dos animais – Fotos Penellope Bianchi

Conhecido como defensor das pessoas em situação de pobreza e padroeiro dos animais, a devoção e dedicação de São Francisco de Assis aos vulneráveis nem sempre foi uma de suas características. Celebrado no dia 4 de outubro, por conta de sua morte em 1224, ele se tornou uma das figuras mais populares e emblemáticas da história da Igreja Católica por conta de seu histórico incomum de abdicação da riqueza para dedicar sua vida aos pobres. 

No Brasil, país com o maior número de católicos do mundo, o flerte entre arte e religiosidade resulta em representações do santo que mesclam suas características tradicionais com elementos regionais da nossa cultura popular.  “Embora ele seja um santo católico, por aqui foi se transformando numa figura que transcende a religião, passando a provocar apreço e identificação por conta das representações que dialogam com a brasilidade. Mesmo mantendo sua típica túnica marrom, com uma corda amarrada à cintura e sandálias simples de couro, alguns artesãos e artistas, a partir de uma mesma referência, imprimem características que remetem ao bom humor e à afetividade do brasileiro”, afirma o curador Lucas Lassen, responsável pela Paiol, marca que atua com artesanato e arte popular brasileira e conta com mais de 20 modelos diferentes do santo. 

Ainda de acordo com Lassen, São Francisco é representado por diversos artistas de diferentes regiões do país e ganha adaptações a partir de técnicas e materiais distintos. “O São Francisco pantaneiro de Elizabeth Marques, do Mato Grosso do Sul, por exemplo, ganha uma das mais importantes características do estado, segurando uma onça pintada, em referência ao título de padroeiro dos animais. Já o São Francisco do pernambucano Leonildo, segura uma sanfona com as cores da bandeira do Pernambuco. No universo da ceramista alagoana Sil da Capela, ele está sentado debaixo de uma jaqueira, uma das marcas do trabalho da artista. O santo feito pela associação que homenageia o cearense Mestre Noza, é entalhado em madeira e já aparece um pouco mais tradicional”, revela Lassen, que ainda ressalta obras das Figureiras de Taubaté, no interior de São Paulo, com um arco florido que aparece em boa parte de suas produções, além da ceramista Néia, de Minas Gerais, entre outros.

A Alice, de São Paulo, usa sua técnica com palha. já a mineira Neia traz o santo em um altar adornado com flores – Fotos Penellope Bianchi

A história

Nascido entre 1181 e 1182 em Assis, na Itália, Giovanni di Pietro di Bernardoniera – seu nome de batismo – vem de uma rica e influente família da região.  Filho de pai italiano e mãe francesa, acabou ganhando o apelido de Francesco (o francês), por conta das constantes viagens de negócios do pai à França dedicadas ao comércio de tecidos. A vida abastada e distante dos problemas da época o fez crescer como um jovem conhecido por esbanjar dinheiro em uma vida cercada de luxos, ambição e a busca por poder e reconhecimento. 

Sem muito apreço pelos negócios da família e sem a intenção de seguir os passos do pai, por volta dos 20 anos de idade ele decidiu se tornar soldado para lutar em uma guerra interna de Assis contra a região da Peruggia. Em busca de fama e grande glórias, ele acabou sendo capturado e preso por cerca de um ano, no qual definhou, passou fome, contraiu doenças e passou a refletir sobre a vida que tinha levado até então. Ao retornar à sua casa, ele até tentou retomar a vida regada a festas e luxos, mas seu encantamento foi diminuindo em pouco tempo. De acordo com diversos biógrafos, é neste momento que ele começa a ter rompantes de caridade, doando dinheiro, roupas e até tecidos da empresa de seu pai aos pobres da região. Em uma de suas passagens mais conhecidas, ao encontrar um rapaz com lepra, embora sempre tenha tido uma aversão aos doentes, acabou tomado por compaixão e acabou beijando-o, o que mais tarde também o fez passar a fazer visitas regulares a hospitais e enfermos. 

O chamado, a Ordem Franciscana e a relação com os animais

Foto – Penellope Bianchi

Segundo historiadores, o chamado para a servidão à Deus se deu por volta dos 25 anos, no momento em que ele rezava na Igreja de São Damião, em Assis. Ele contava que tinha ouvido o crucifixo falar com ele, repetindo três vezes a frase:  “Francisco, repara minha casa, pois olhas que está em ruínas”. A ação o fez vender tudo o que tinha e levar o dinheiro para o padre de São Damião, pedindo ainda permissão para viver com o padre. Sabendo de tudo, seu pai foi buscá-lo contrariado, e lhe disse que se ele pretendia seguir com a decisão, deveria abdicar de sua herança. E assim ele o fez, renunciando à vida abastada e passando a se dedicar exclusivamente à vida religiosa, pedindo esmolas para obras de caridade. 

Depois de conseguir a atenção de boa parte da cidade para seus atos de renúncia de bens em prol da caridade, Francisco decidiu escrever um manuscrito sobre a nova ordem, que viria a se tornar a Ordem Franciscana, com pilares baseados no amor, na humildade, na castidade e na obediência aos ensinamentos religiosos. Ao longo dos anos de peregrinação, ele passou a olhar também para a natureza e os animais como parte da obra divina, o que o fez ficar conhecido por defender, inclusive, a presença de animais nos cultos religiosos. Hoje, este é um dos motivos por ele ser tido como o padroeiro dos animais. O reconhecimento como santo foi feito pelo papa Gregório IX  em 1126, dois anos após a sua morte, trazendo ainda mais força para seu legado, que tem se estendido ao longo dos anos e seguido inclusive pelo atual Papa Francisco, que escolheu seu nome por conta do santo.

No universo da alagoana Sil da Capela, o São Francisco (à esquerda) aparece sentado aos pés de uma Jaqueira. O santo feito pela Associação dos Artesãos de Mestre Noza é feito em madeira e tem imagem mais tradicional – Foto: Paiol(esquerda) e Penellope Bianchi (direita)
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Mestre J. Borges recebe homenagem em exposição que exalta o movimento armorial

Principal nome da xilogravura brasileira, artista faleceu em julho de 2024

Por: ANGELO MIGUEL | BACURI COMUNICAÇÃO em Mestre J. Borges recebe homenagem em exposição que exalta o movimento armorial – Gazeta da Semana

Museu do Pontal / Divulgação

No dia 5 de setembro, o Shopping Lar Center, primeiro shopping temático de arquitetura e decoração de São Paulo, leva à região norte da cidade a exposição “Ecos Armoriais”, que integrou a edição deste ano da CASACOR, maior evento de arquitetura de interiores das Américas. Celebrando a ancestralidade da cultura popular do sertão, a mostra destaca obras de 25 artistas e designers brasileiros que, de alguma forma, se inspiram em referências do movimento e do cotidiano sertanejo. A entrada para a exposição é livre e gratuita.

Dentre as ações, está prevista uma homenagem ao Mestre J. Borges, falecido em 26 de julho de 2024. Reconhecido por ser o expoente da xilogravura brasileira, ele é tido como um dos responsáveis por levar a estética do sertão para todo o mundo. “O Mestre J Borges foi um dos artistas mais importantes do Brasil e deixou um legado imensurável para a cultura brasileira. Ao lado de outros personagens incríveis como Ariano Suassuna e Gilvan Samico, passou a retratar o cotidiano nordestino com orgulho, considerando as belezas, as mazelas, a explosão de cores, a sonoridade, a poesia e as características locais do sertão.  Por todo seu legado, esta homenagem é mais do que merecida”, afirma Lucas Lassen, curador e diretor criativo da Paiol, que fez a curadoria dessa homenagem.

O público vai poder conhecer um pouco dos temas mais recorrentes em suas obras, como A Passarada, A Professora, Coração na Mão, O Monstro do Sertão, entre outros. “O intuito é dar ao público uma ideia do vasto universo criativo do artista. Ele sempre retratava a beleza da natureza, as profissões, o cotidiano do povo, as histórias contadas nos cordéis e o seu universo mágico. Será também uma grande oportunidade para o público, pois as obras expostas estarão à venda e através do QrCode poderão ser adquiridas e entregues ao final da homenagem”, complementa Lassen.

Com trabalhos de Mestre Joaquim de Tracunhaém,  Leonildo da Silva, Alcione Freitas e outros artistas influenciados pela estética armorial, um dos destaques fica para Bacaro Borges, filho caçula do artista, que criou uma xilogravura exclusiva e numerada retratando o encontro no céu de J. Borges com o escritor, dramaturgo e idealizador do movimento, Ariano Suassuna. 

Bacaro Borges, filho do artista, fez uma obra inspirada no encontro de J. Borges com Suassuna – Foto Penellope Bianchi

Sucesso na CASACOR, exposição poderá ser visitada gratuitamente

Com curadoria de Pedro Ariel Santana e Rodrigo Ambrósio, a “Ecos Armoriais” reúne uma seleção de obras que refletem a pluralidade cultural do Nordeste, oferecendo aos visitantes um mergulho em um universo vibrante de cores, formas e narrativas. “Nesta mostra, buscamos oferecer um recorte atual da região, apresentando 25 artistas vivos e em atividade que trazem diferentes técnicas e manifestações visuais em suas artes. Desde peças de design e pintura em parede até xilogravuras e poemas. Quando fizemos a curadoria da exposição, nossa premissa era refletir a riqueza da tradição armorial com uma visão contemporânea do sertão nordestino”, afirma Pedro.

Fotos: Denilson Machado

A iniciativa está diretamente ligada ao novo momento do Shopping de se unir a parceiros do mundo da arte, gastronomia, arquitetura e design, e proporcionar experiências memoráveis aos seus visitantes. Guilherme Marini, diretor executivo do Shopping Center Norte e Lar Center, comenta: “Estamos muito entusiasmados com a abertura da exposição ‘Ecos Armoriais’ no nosso Hub de Artes. Esta exposição é um marco importante em nosso compromisso com a descentralização da arte e a oferta de experiências culturais completas. Com entrada gratuita, esperamos que todos tenham a oportunidade de se conectar com a rica herança cultural do Nordeste brasileiro.”

O Movimento

Surgido no Recife em 1970, o movimento armorial desempenhou um papel fundamental na solidificação da imagem do Nordeste na cultura nacional. Sob a liderança de Ariano Suassuna, o movimento uniu artistas e intelectuais de diversas disciplinas em torno da ideia de uma arte erudita enraizada nas tradições brasileiras, tendo o folheto da literatura de cordel como elemento central.  A mostra fica em cartaz até o dia 29 de setembro com entrada gratuita.

Serviço

Exposição Ecos Armoriais

Abertura: 5 de setembro, quinta-feira, às 17h

Visitação: 5 a 29 de setembro, das 10h às 22h | Entrada gratuita

Informações: https://www.larcenter.com.br/

Mestra Noemisa Batista tem legado perpetuado pelos sobrinhos

A artesã, uma das principais referências do Vale do Jequitinhonha, tem suas técnicas e criações celebradas pelos sobrinhos Adriano e José Nilo

Por Redação Casa e Jardim

04/09/2024 06h48  Atualizado há 2 dias

Noemisa começou a mexer com o barro ainda criança, fazendo pequenos brinquedos — Foto: UFMG / Divulgação

Noemisa Batista do Santos foi a responsável por uma das trajetórias mais eloquentes da arte popular brasileira. Falecida em abril de 2024, aos 77 anos, a artesã é reconhecida por sua originalidade e pela capacidade de contar histórias a partir do barro.

Considerada pioneira em algumas das temáticas da região, tornou-se uma das principais referências do Vale do Jequitinhonha, região em Minas Gerais – berço da cerâmica artística e utilitária brasileira. Natural da cidade mineira de Caraí, Noemisa vivia e produzia as suas peças na região do Córrego de Ribeirão da Capivara.

Mestra Noemisa Batista é um dos principais nomes da cerâmica brasileira — Foto: Oscar Liberal / Divulgação

“O trabalho dela é de uma expressividade tão forte sobre Caraí, sendo possível afirmar que não existiria a arte do município como a conhecemos hoje se não fosse pela Noemisa. Usando o barro, ela se tornou uma espécie de cronista, retratando o trivial e transformando a simplicidade do cotidiano em obras de arte”, revela o curador de arte popular Lucas Lassen, diretor da Paiol, marca que atua com artesanato popular brasileiro.

Noemisa começou a modelar o barro ainda criança, quando acompanhava a mãe ceramista na confecção de peças que serviam para complementar a renda da família. Ela fazia pequenos brinquedos e o seu trabalho diferenciado começou a se destacar entre os artesãos locais.

“Sem uma preocupação muito grande com a função do objeto, ela passou a retratar o cotidiano do vale, trazendo animais, pessoas e cenas específicas ligadas às celebrações populares, como casamentos e batizados, além de peças com contexto religiosos, como igrejas e presépios. Como tinha a ludicidade muito aflorada, também representava contos antigos”, conta Lucas.

A delicada obra de Noemisa Batista retrata o cotidiano do Vale do Jequitinhonha — Foto: Acervo Paiol / Divulgação

A delicadeza da obra de Noemisa a levou a inúmeras mostras pelo Brasil e todo o mundo. Em 1987, suas esculturas integraram a exposição Brésil, Arts Populaires, no Grand Palais, em Paris. Já em 2000, algumas peças fizeram parte da Mostra do Redescobrimento, da Fundação Bienal de São Paulo.

Além disso, a sua arte está no acervo permanente do Museu de Folclore Edison Carneiro (RJ), no Museu da Casa do Pontal – Coleção de Jacques van de Beuque (RJ) e no Museu de Arte Popular Brasileira do Centro Cultural de São Francisco, em João Pessoa (PB).

Como ela nunca se casou nem teve filhos, coube a seus dois sobrinhos levar o seu legado adiante. Hoje com 46 anos, José Nilo Francisco do Santos, filho do irmão de Noemisa, começou no mundo das artes aos 10 anos.

Os sobrinhos José Nilo e Adriano ficaram responsáveis por perpetuar o legado de Noemisa — Foto: Lucas Lassen / Divulgação

“Na nossa família, a cerâmica chegou muito antes da tia Noemisa, mas foi com ela que fui aprendendo a partir da observação. Depois, comecei a arriscar fazendo uma coisinha aqui e outra ali, até que ela foi nos ensinando as técnicas”, revela José, que também é lavrador.

Adriano Rosa do Santos, de 44 anos, também tem seguido os passos da tia na cerâmica, profissão que divide com a de lavrador, como o primo. Como uma homenagem à trajetória de Noemisa, os dois sobrinhos tiveram algumas de suas peças apresentadas pela Paiol no 18º Salão de Artesanato em São Paulo, que aconteceu no final de agosto.

As peças de barro de José Nilo e Adriano celebram as criações e técnicas da tia falecida — Foto: Acervo Paiol / Divulgação

Movimento armorial é herança do nordeste e memória artística brasileira

A vanguarda nasceu na década de 1970 como o ponto de partida para o reconhecimento de uma arte erudita puramente brasileira

Por Rafaela Freitas

16/07/2024 06h51  Atualizado há 2 semanas

Escultura ‘Uma Mulher Vestida de Sol’, de Alcione Freitas — Foto: Penellope Bianchi / Divulgação

Criado sob as asas da Universidade Federal de Pernambuco e lançado ao povo em Recife em 18 de outubro de 1970, o Movimento Armorial representa as raízes e a identidade nordestina nas artes plásticas, cênicas e até mesmo na literatura.

Liderada pelo filósofo e artista Ariano Suassuna, que teria completado 97 anos em 16 de junho deste ano, a vanguarda tem como referências-base o Quinteto Armorial; Ariano, que também era escritor; Gilvan Samico; e Mestre J. Borges, mestres da xilogravura brasileira.

“O lado encantador do movimento armorial está em sua capacidade de fazer com que os artistas locais passassem a olhar para o seu próprio cotidiano com orgulho, considerando a beleza, as mazelas, a explosão de cores, a sonoridade e a visão daqueles que vivenciam diariamente o sertão”, explica Lucas Lassen, curador de arte popular e diretor criativo da Paiol.

Segundo a historiadora da imagem, arte e cultura e mestra em História da Arte e da Cultura Vanessa Bortulucce, o termo “armorial” faz referência ao conceito francês de armoiries, que significa “armas”. Para ela, o nome evoca um conjunto de sinais e identidades nordestinas, como a fauna e flora da região.

Antonio Nóbrega, artista recifense que integrou o Quinteto Armorial, continua sendo um dos símbolos do movimento através de sua arte multifacetada — Foto: Pedro França / Wikimedia Commons

Vanessa ainda explica que mesmo para Ariano, o movimento enxergava a si com abertura para todas as vertentes artísticas, espalhando-se também pela dança, como o xaxado, frevo e reisado, passando pela cerâmica, a xilogravura, a poesia, a tapeçaria, o mamulengo (teatro de bonecos) e diversas outras formas de fazer arte.

Datado da década de 1970, o Movimento Armorial continua em ampla visibilidade até hoje. Entre os artistas em destaque citados por Lucas, Leonildo da Silva é um ceramista nascido em Alto do Moura (PE), que começou a criar peças de barro por volta dos 10 anos, retratando o cotidiano nordestino com figuras humanas, carros de boi, festas da região e outros símbolos.

“O armorial é parte da nossa vida. O cordel e as histórias são uma grande fonte de inspiração não só para mim, mas para toda a minha família, e também para outros artistas locais”, afirma ele, filho e pai de artesãos.

“Onça Caetana” é uma das obras de Leonildo da Silva. A peça é uma homenagem aos 50 anos do Movimento Armorial, que tem como referência uma figura do folclore local — Foto: Penellope Bianchi / Divulgação

Mais um dos nomes da atualidade, Alcione Freitas é pedagoga e artesã de Paulista, município de Pernambuco. Com técnicas que misturam modelagem e pintura, sua entrada no universo do movimento se deu pelo desenho, passou pela pintura e, mais tarde, migrou para o papel machê e a papietagem, que acabaram se tornando sua principal fonte de renda.

Hoje, a artista usa da reciclagem e do reaproveitamento de embalagens plásticas, garrafas pet, rolos de fitas e diferentes tipos de papel para trabalhar em suas obras.

“Inspirada pela comemoração dos 50 anos do movimento armorial, em 2020, e incentivada pela Fenearte, principal feira de arte popular do Brasil, ela começou a produzir a Boneca de Roca e o Anjo Armorial, dois elementos sempre presentes no movimento. Feitas de papel, a partir da pintura, as obras mantêm sua leveza, mas parecem ter sido produzidas em cerâmica”, diz Lucas.

Ainda, um dos nomes mais fortes do Armorial, Ariano, seu precursor, é conhecido pelo grande projeto O Auto da Compadecida, uma peça de teatro que retrata o dia a dia de João Grilo e Chicó, que, em 2000, ganhou adaptação para a televisão. “O movimento é o conceito de arte total, existente há muito tempo em várias experiências artísticas, e aqui se afirma em solo brasileiro”, finaliza Vanessa.