Mestra Noemisa Batista tem legado perpetuado pelos sobrinhos

A artesã, uma das principais referências do Vale do Jequitinhonha, tem suas técnicas e criações celebradas pelos sobrinhos Adriano e José Nilo

Por Redação Casa e Jardim

04/09/2024 06h48  Atualizado há 2 dias

Noemisa começou a mexer com o barro ainda criança, fazendo pequenos brinquedos — Foto: UFMG / Divulgação

Noemisa Batista do Santos foi a responsável por uma das trajetórias mais eloquentes da arte popular brasileira. Falecida em abril de 2024, aos 77 anos, a artesã é reconhecida por sua originalidade e pela capacidade de contar histórias a partir do barro.

Considerada pioneira em algumas das temáticas da região, tornou-se uma das principais referências do Vale do Jequitinhonha, região em Minas Gerais – berço da cerâmica artística e utilitária brasileira. Natural da cidade mineira de Caraí, Noemisa vivia e produzia as suas peças na região do Córrego de Ribeirão da Capivara.

Mestra Noemisa Batista é um dos principais nomes da cerâmica brasileira — Foto: Oscar Liberal / Divulgação

“O trabalho dela é de uma expressividade tão forte sobre Caraí, sendo possível afirmar que não existiria a arte do município como a conhecemos hoje se não fosse pela Noemisa. Usando o barro, ela se tornou uma espécie de cronista, retratando o trivial e transformando a simplicidade do cotidiano em obras de arte”, revela o curador de arte popular Lucas Lassen, diretor da Paiol, marca que atua com artesanato popular brasileiro.

Noemisa começou a modelar o barro ainda criança, quando acompanhava a mãe ceramista na confecção de peças que serviam para complementar a renda da família. Ela fazia pequenos brinquedos e o seu trabalho diferenciado começou a se destacar entre os artesãos locais.

“Sem uma preocupação muito grande com a função do objeto, ela passou a retratar o cotidiano do vale, trazendo animais, pessoas e cenas específicas ligadas às celebrações populares, como casamentos e batizados, além de peças com contexto religiosos, como igrejas e presépios. Como tinha a ludicidade muito aflorada, também representava contos antigos”, conta Lucas.

A delicada obra de Noemisa Batista retrata o cotidiano do Vale do Jequitinhonha — Foto: Acervo Paiol / Divulgação

A delicadeza da obra de Noemisa a levou a inúmeras mostras pelo Brasil e todo o mundo. Em 1987, suas esculturas integraram a exposição Brésil, Arts Populaires, no Grand Palais, em Paris. Já em 2000, algumas peças fizeram parte da Mostra do Redescobrimento, da Fundação Bienal de São Paulo.

Além disso, a sua arte está no acervo permanente do Museu de Folclore Edison Carneiro (RJ), no Museu da Casa do Pontal – Coleção de Jacques van de Beuque (RJ) e no Museu de Arte Popular Brasileira do Centro Cultural de São Francisco, em João Pessoa (PB).

Como ela nunca se casou nem teve filhos, coube a seus dois sobrinhos levar o seu legado adiante. Hoje com 46 anos, José Nilo Francisco do Santos, filho do irmão de Noemisa, começou no mundo das artes aos 10 anos.

Os sobrinhos José Nilo e Adriano ficaram responsáveis por perpetuar o legado de Noemisa — Foto: Lucas Lassen / Divulgação

“Na nossa família, a cerâmica chegou muito antes da tia Noemisa, mas foi com ela que fui aprendendo a partir da observação. Depois, comecei a arriscar fazendo uma coisinha aqui e outra ali, até que ela foi nos ensinando as técnicas”, revela José, que também é lavrador.

Adriano Rosa do Santos, de 44 anos, também tem seguido os passos da tia na cerâmica, profissão que divide com a de lavrador, como o primo. Como uma homenagem à trajetória de Noemisa, os dois sobrinhos tiveram algumas de suas peças apresentadas pela Paiol no 18º Salão de Artesanato em São Paulo, que aconteceu no final de agosto.

As peças de barro de José Nilo e Adriano celebram as criações e técnicas da tia falecida — Foto: Acervo Paiol / Divulgação