Qual a importância da moringa de barro na cultura brasileira?

Quando falamos em objetos que simbolizam o artesanato brasileiro, a moringa de barro certamente ocupa um lugar de destaque. Este elemento não é apenas um objeto decorativo, ele carrega consigo um legado cultural riquíssimo, sendo uma verdadeira cápsula do tempo que nos transporta a um Brasil de modos rústicos e naturais. Mas o que torna a moringa de barro tão especial assim? Vamos mergulhar nessa tradição e descobrir!

O resgate histórico da moringa

Com uma estética que remete ao Brasil colonial, a moringa de barro com copo não é apenas um recipiente para armazenar água fresca. Ela é um pedaço da nossa memória, um resgate de um tempo onde a simplicidade ditava a funcionalidade. Usada em larga escala, a moringa era a solução encontrada por nossos antepassados para manter a água em temperatura agradável.

O barro como fonte de vida e arte

A moringa de barro é um exemplo primoroso da habilidade dos artesãos brasileiros em transformar uma matéria-prima simples em algo que agrega valor, beleza e utilidade. A argila, moldada e queimada, cria não só uma solução ecológica para armazenamento de líquidos, mas também uma peça de arte que fala muito sobre as mãos que a criaram e a cultura que ela representa.

Funcionalidade além da beleza

Para além de sua identidade cultural, a moringa com copo possui uma funcionalidade admirável. O barro, material poroso, permite que a água mantenha-se fresca, pois sua capacidade de “respirar” induz a evaporação que resfria o líquido no interior. Esse fenômeno, conhecido como resfriamento evaporativo, mostra que a moringa de barro não é apenas encantadora – ela é cientificamente eficiente.

A moringa e as raízes culturais

Não é raro encontrar moringa de barro adornando as casas pelo Brasil, especialmente aquelas que valorizam o retorno às raízes e a decoração com sabor de história. A moringa não é uma peça isolada; ela dialoga com um ambiente que respira brasilidade, remetendo às épocas onde a terra e o fogo eram os principais aliados dos criadores.

Moringa de barro: um ícone sustentável

Em tempos em que a sustentabilidade é cada vez mais essencial, a moringa de barro surge como uma alternativa ecológica poderosa. Optar por uma moringa, em vez de garrafas plásticas, é adotar um conceito ecológico tradicional, além de contribuir para um futuro mais verde e saudável.

Artesanato brasileiro na vida cotidiana

Incorporar a moringa ao seu dia a dia é um lembrete vivo da importância de preservar e valorizar nossas origens e tradições. Cada peça carrega consigo um portal para entender melhor uma cultura, seu povo e seu modo de vida. Ao trazer esse elemento para sua rotina, você está fazendo mais do que uma escolha decorativa; está afirmando uma identidade.

E, você, apreciador das belezas e histórias por trás do artesanato brasileiro, não poderia deixar de conhecer a Loja Paiol. A Paiol é referência em artesanato brasileiro, unindo mestres consagrados, novos artistas e povos indígenas. Com carinho e dedicação, mantemos desde 2007 um catálogo de artesanato que não só representa, mas também celebra a diversidade e riqueza de nosso país. Visite nosso site e encontre a moringa que mais fala ao seu coração e à sua história!

Mestre J. Borges recebe homenagem em exposição que exalta o movimento armorial

Principal nome da xilogravura brasileira, artista faleceu em julho de 2024

Por: ANGELO MIGUEL | BACURI COMUNICAÇÃO em Mestre J. Borges recebe homenagem em exposição que exalta o movimento armorial – Gazeta da Semana

Museu do Pontal / Divulgação

No dia 5 de setembro, o Shopping Lar Center, primeiro shopping temático de arquitetura e decoração de São Paulo, leva à região norte da cidade a exposição “Ecos Armoriais”, que integrou a edição deste ano da CASACOR, maior evento de arquitetura de interiores das Américas. Celebrando a ancestralidade da cultura popular do sertão, a mostra destaca obras de 25 artistas e designers brasileiros que, de alguma forma, se inspiram em referências do movimento e do cotidiano sertanejo. A entrada para a exposição é livre e gratuita.

Dentre as ações, está prevista uma homenagem ao Mestre J. Borges, falecido em 26 de julho de 2024. Reconhecido por ser o expoente da xilogravura brasileira, ele é tido como um dos responsáveis por levar a estética do sertão para todo o mundo. “O Mestre J Borges foi um dos artistas mais importantes do Brasil e deixou um legado imensurável para a cultura brasileira. Ao lado de outros personagens incríveis como Ariano Suassuna e Gilvan Samico, passou a retratar o cotidiano nordestino com orgulho, considerando as belezas, as mazelas, a explosão de cores, a sonoridade, a poesia e as características locais do sertão.  Por todo seu legado, esta homenagem é mais do que merecida”, afirma Lucas Lassen, curador e diretor criativo da Paiol, que fez a curadoria dessa homenagem.

O público vai poder conhecer um pouco dos temas mais recorrentes em suas obras, como A Passarada, A Professora, Coração na Mão, O Monstro do Sertão, entre outros. “O intuito é dar ao público uma ideia do vasto universo criativo do artista. Ele sempre retratava a beleza da natureza, as profissões, o cotidiano do povo, as histórias contadas nos cordéis e o seu universo mágico. Será também uma grande oportunidade para o público, pois as obras expostas estarão à venda e através do QrCode poderão ser adquiridas e entregues ao final da homenagem”, complementa Lassen.

Com trabalhos de Mestre Joaquim de Tracunhaém,  Leonildo da Silva, Alcione Freitas e outros artistas influenciados pela estética armorial, um dos destaques fica para Bacaro Borges, filho caçula do artista, que criou uma xilogravura exclusiva e numerada retratando o encontro no céu de J. Borges com o escritor, dramaturgo e idealizador do movimento, Ariano Suassuna. 

Bacaro Borges, filho do artista, fez uma obra inspirada no encontro de J. Borges com Suassuna – Foto Penellope Bianchi

Sucesso na CASACOR, exposição poderá ser visitada gratuitamente

Com curadoria de Pedro Ariel Santana e Rodrigo Ambrósio, a “Ecos Armoriais” reúne uma seleção de obras que refletem a pluralidade cultural do Nordeste, oferecendo aos visitantes um mergulho em um universo vibrante de cores, formas e narrativas. “Nesta mostra, buscamos oferecer um recorte atual da região, apresentando 25 artistas vivos e em atividade que trazem diferentes técnicas e manifestações visuais em suas artes. Desde peças de design e pintura em parede até xilogravuras e poemas. Quando fizemos a curadoria da exposição, nossa premissa era refletir a riqueza da tradição armorial com uma visão contemporânea do sertão nordestino”, afirma Pedro.

Fotos: Denilson Machado

A iniciativa está diretamente ligada ao novo momento do Shopping de se unir a parceiros do mundo da arte, gastronomia, arquitetura e design, e proporcionar experiências memoráveis aos seus visitantes. Guilherme Marini, diretor executivo do Shopping Center Norte e Lar Center, comenta: “Estamos muito entusiasmados com a abertura da exposição ‘Ecos Armoriais’ no nosso Hub de Artes. Esta exposição é um marco importante em nosso compromisso com a descentralização da arte e a oferta de experiências culturais completas. Com entrada gratuita, esperamos que todos tenham a oportunidade de se conectar com a rica herança cultural do Nordeste brasileiro.”

O Movimento

Surgido no Recife em 1970, o movimento armorial desempenhou um papel fundamental na solidificação da imagem do Nordeste na cultura nacional. Sob a liderança de Ariano Suassuna, o movimento uniu artistas e intelectuais de diversas disciplinas em torno da ideia de uma arte erudita enraizada nas tradições brasileiras, tendo o folheto da literatura de cordel como elemento central.  A mostra fica em cartaz até o dia 29 de setembro com entrada gratuita.

Serviço

Exposição Ecos Armoriais

Abertura: 5 de setembro, quinta-feira, às 17h

Visitação: 5 a 29 de setembro, das 10h às 22h | Entrada gratuita

Informações: https://www.larcenter.com.br/

Mestra Noemisa Batista tem legado perpetuado pelos sobrinhos

A artesã, uma das principais referências do Vale do Jequitinhonha, tem suas técnicas e criações celebradas pelos sobrinhos Adriano e José Nilo

Por Redação Casa e Jardim

04/09/2024 06h48  Atualizado há 2 dias

Noemisa começou a mexer com o barro ainda criança, fazendo pequenos brinquedos — Foto: UFMG / Divulgação

Noemisa Batista do Santos foi a responsável por uma das trajetórias mais eloquentes da arte popular brasileira. Falecida em abril de 2024, aos 77 anos, a artesã é reconhecida por sua originalidade e pela capacidade de contar histórias a partir do barro.

Considerada pioneira em algumas das temáticas da região, tornou-se uma das principais referências do Vale do Jequitinhonha, região em Minas Gerais – berço da cerâmica artística e utilitária brasileira. Natural da cidade mineira de Caraí, Noemisa vivia e produzia as suas peças na região do Córrego de Ribeirão da Capivara.

Mestra Noemisa Batista é um dos principais nomes da cerâmica brasileira — Foto: Oscar Liberal / Divulgação

“O trabalho dela é de uma expressividade tão forte sobre Caraí, sendo possível afirmar que não existiria a arte do município como a conhecemos hoje se não fosse pela Noemisa. Usando o barro, ela se tornou uma espécie de cronista, retratando o trivial e transformando a simplicidade do cotidiano em obras de arte”, revela o curador de arte popular Lucas Lassen, diretor da Paiol, marca que atua com artesanato popular brasileiro.

Noemisa começou a modelar o barro ainda criança, quando acompanhava a mãe ceramista na confecção de peças que serviam para complementar a renda da família. Ela fazia pequenos brinquedos e o seu trabalho diferenciado começou a se destacar entre os artesãos locais.

“Sem uma preocupação muito grande com a função do objeto, ela passou a retratar o cotidiano do vale, trazendo animais, pessoas e cenas específicas ligadas às celebrações populares, como casamentos e batizados, além de peças com contexto religiosos, como igrejas e presépios. Como tinha a ludicidade muito aflorada, também representava contos antigos”, conta Lucas.

A delicada obra de Noemisa Batista retrata o cotidiano do Vale do Jequitinhonha — Foto: Acervo Paiol / Divulgação

A delicadeza da obra de Noemisa a levou a inúmeras mostras pelo Brasil e todo o mundo. Em 1987, suas esculturas integraram a exposição Brésil, Arts Populaires, no Grand Palais, em Paris. Já em 2000, algumas peças fizeram parte da Mostra do Redescobrimento, da Fundação Bienal de São Paulo.

Além disso, a sua arte está no acervo permanente do Museu de Folclore Edison Carneiro (RJ), no Museu da Casa do Pontal – Coleção de Jacques van de Beuque (RJ) e no Museu de Arte Popular Brasileira do Centro Cultural de São Francisco, em João Pessoa (PB).

Como ela nunca se casou nem teve filhos, coube a seus dois sobrinhos levar o seu legado adiante. Hoje com 46 anos, José Nilo Francisco do Santos, filho do irmão de Noemisa, começou no mundo das artes aos 10 anos.

Os sobrinhos José Nilo e Adriano ficaram responsáveis por perpetuar o legado de Noemisa — Foto: Lucas Lassen / Divulgação

“Na nossa família, a cerâmica chegou muito antes da tia Noemisa, mas foi com ela que fui aprendendo a partir da observação. Depois, comecei a arriscar fazendo uma coisinha aqui e outra ali, até que ela foi nos ensinando as técnicas”, revela José, que também é lavrador.

Adriano Rosa do Santos, de 44 anos, também tem seguido os passos da tia na cerâmica, profissão que divide com a de lavrador, como o primo. Como uma homenagem à trajetória de Noemisa, os dois sobrinhos tiveram algumas de suas peças apresentadas pela Paiol no 18º Salão de Artesanato em São Paulo, que aconteceu no final de agosto.

As peças de barro de José Nilo e Adriano celebram as criações e técnicas da tia falecida — Foto: Acervo Paiol / Divulgação

Qual o significado das peças de artesanato indígena? Cultura e história nas suas mãos

Quando abordamos o tema do artesanato indígena, estamos nos deliciando em um mar de símbolos e significados que transcendem simples adornos ou objetos de decoração. 

Cada peça carrega em si a essência de um povo, suas crenças, sua conexão com a natureza e sua narrativa histórica ancestral.

A arte dos acessórios indígenas

Os acessórios indígenas são, talvez, a mais visível expressão dessa rica cultura. Cada colar, cada pulseira indígena, cada brinco, criados a partir de materiais retirados do seio da terra, falam sobre a identidade de quem os usa. 

O uso de sementes, madeiras, pedras e fibras não é aleatório; para os povos originários, estes são elementos cheios de vida e poder.

Uma simples pulseira indígena, por exemplo, pode revelar a tribo do artesão, os mitos do seu povo, ou mesmo servir como proteção espiritual ao portador. Em uma era de consciência globalizada, escolher um acessório indígena vai além do estético – é uma forma de respeitar e propagar a importância da diversidade cultural.

O mistério dos totens

Em se tratando de artesanato representativo, poucas peças são tão icônicas quanto o totem indígena. Além de objeto decorativo, o totem é carregado de simbolismo. 

Retratando animais, elementos da natureza ou antepassados, o totem é um registro sagrado das histórias e dos ensinamentos do povo que o esculpiu. Ele é um eixo que une o céu à terra, o espiritual ao material, o passado ao presente.

Em cada figura, cada curva e cada cor do totem indígena, há um capítulo da sabedoria milenar desses povos. É o artesanato narrando uma história que resiste ao tempo, presenteando-nos com conhecimentos que são verdadeiras heranças da humanidade.

Conexão cultural através do artesanato

O fascínio pelo artesanato indígena colocou no mapa criativos que se dedicam a perpetuar e divulgar essa arte única. 

A arte indígena brasileira é um patrimônio imaterial que, felizmente, tem encontrado espaço em diferentes esferas sociais, permitindo que mais pessoas se conectem com a ancestralidade e a sabedoria desses povos.

Seja pela vivacidade de seus tecidos, pela unicidade de suas pinturas ou pela profunda espiritualidade de seus adornos, o artesanato indígena é uma demonstração de resistência cultural. É um convite para fazermos parte de um legado enriquecedor, aprendendo e divulgando a importância deste trabalho meticuloso e cheio de significado.

No contexto atual, essas peças também reforçam a importância da sustentabilidade. A valorização dos materiais naturais e o respeito ao meio ambiente estão no cerne da criação indígena, pontuando uma lição essencial para o presente e o futuro de nossa relação com o planeta.

A arte que une povos

Em cada ponto, trama, ou escultura, há uma intercessão de mundos, a comunhão de tempos distintos e a celebração da vida. Não se trata apenas de possuir um objeto decorativo, mas de ter parte em uma cosmovisão rica e eterna.

Neste espírito de comunhão e troca, convidamos vocês para visitarem o site da loja Paiol, onde juntamos o trabalho de mestres consagrados, novos artistas e povos indígenas. 

Desde 2007, a Paiol segue como referência em artesanato brasileiro representativo, unindo tradição, modernidade e os valores que nos fazem genuinamente humanos. Venham descobrir, apreciar e levar para casa uma parte inestimável da cultura e história do nosso país.

Pequenos negócios dão cara nova à Galeria Metrópole

Ju Amorim faz parte da nova geração de empresários que transformaram o edifício, que antes abrigava agências de turismo e restaurantes, em um polo de arte, design e decoração

Mariana Missiaggia,
02/Set/2024 em: Diário do Comércio (dcomercio.com.br)

Dos muitos movimentos de revitalização que acontecem no Centro de São Paulo, alguns já estão consolidados e deram novo fôlego à região. Na República, a Praça Dom José Gaspar vive há algum tempo essa retomada com os festivais e a programação da Biblioteca Mário de Andrade, novos negócios, como o bar Gaspar, e todo o vigor da Galeria Metrópole.

Entre peças assinadas por designers, lojas de vinho, restaurantes regionais e livrarias, a Metrópole ganhou um novo público nos últimos dois anos e passou a ser frequentada por gente jovem e descolada, após enfrentar uma série de fechamentos acentuada pela pandemia.

Vivendo uma nova fase e com mais de 80% das lojas ocupadas, o endereço é agora reconhecido como polo de arte, design e decoração, além de contar com boas opções gastronômicas, que fogem do tradicional, como o Gatcha Cafe.

Juliana Amorim é uma das responsáveis por ter dado essa perspectiva mais contemporânea à Galeria. Em 2021, quando o edifício apresentava uma desocupação considerável, a designer apostou em um ambiente colorido, com placas neon e cheiro de incenso, para vender seus vasos, bancos e outros objetos pintados à mão.

Apaixonada pelo Centro, Juliana começou sua marca – a Ju Amora – no bairro de Perdizes, mas sempre esteve atenta a oportunidades na região da Galeria Metrópole. Durante a pandemia, o cenário de abandono, as muitas lojas fechadas e a pouca circulação de pessoas não pareciam favoráveis à abertura de um novo negócio.

Mesmo assim, atraída por valores de locação menores, pelo potencial de uma arquitetura inspiradora e o rico patrimônio modernista daquela região, decidiu apostar na vocação criativa do Centro.

“Me atraí por essa veia cultural e por admirar outros negócios que têm tudo a ver com o que o Centro transmite. Aqui no Centro fazemos conexões com diferentes mundos e ampliamos o acesso para as pessoas conhecerem melhor o que é produzido na cidade”, diz. 

Na mesma leva, o designer de mobiliário Bruno Niz abriu as portas do Estúdio Niz, que vende mobiliário de perfil minimalista. Ao lado de Juliana e outros empreendedores, Bruno movimenta uma série de iniciativas, como a feira Jardim Secreto, que ocorre mensalmente no prédio. O intuito é dar maior visibilidade à galeria e requalificar seu entorno como espaço cultural e de conexão com quem passa por ali.

Um ideal comum entre os que empreendem na área, como Paulo Alves, designer que ocupa a Galeria Zarvos, logo à frente da Metrópole, e que há anos se empenha em atrair colegas para o Centro. É de Paulo, por exemplo, a iniciativa de colocar a Design Week DW! em espaços do Copan e das galerias Zarvos e Metrópoles, assim como outras exposições e eventos sobre arquitetura, arte e urbanismo.

Lucas Lassen é outro empresário que foi seduzido pelo endereço. Há pouco mais de um ano, ele escolheu a Metrópole para abrir a terceira unidade da Paiol, sua loja de artesanato brasileiro inaugurada há 15 anos e que tenta desmistificar a ideia de que esse tipo de arte é elitizado. Lucas mantém a sua unidade principal na rua Fradique Coutinho, em Pinheiros, além de outra loja no shopping Center 3, na avenida Paulista. 

ÍCONE MODERNISTA

Projetada entre os anos 1950 e 1960 por Gian Carlo Gasperini e Salvador Candia, a Galeria Metrópole é um ícone da arquitetura modernista e por anos foi reduto da elite paulistana. A arquitetura do edifício foi pensada para permitir a continuidade da rua para o interior do prédio, numa espécie de convite ao pedestre, atuando como extensão da praça Dom José Gaspar.

Publicações da época destacavam o caráter inovador do edifício comercial, que oferecia um espaço interno que é continuação do externo, além de algo inédito para os padrões da época – um funcionamento vertical baseado em 14 escadas rolantes. Atributos que o colocam como precursor de muitos dos atuais shopping centers da cidade.

Entretanto, de centro comercial de luxo nos anos 1960, a Metrópole passou por um declínio a partir do final da década de 1970, quando suas lojas padronizadas deixaram de ser competitivas frente a um mercado que já demonstrava certa diferenciação. O aumento da violência na região e a criação de novos bairros de luxo também contribuíram para o esvaziamento da galeria.

Na década de 1980, com a revitalização da Praça Dom José Gaspar, o complexo ganhou algum fôlego e passou a abrigar muitas agências de turismo, lojas de conserto, restaurantes no térreo e uma casa noturna. O local ainda era muito frequentado, especialmente, por quem trabalhava na região e o utilizava como praça de alimentação na hora do almoço.

Até que vieram os anos de pandemia e, com eles, o fechamento de muitos espaços comerciais, fazendo o complexo ganhar aspecto de um lugar abandonado.

ECONOMIA CRIATIVA EM ALTA

Cercado por prédios históricos e com boa localização, restam poucas unidades disponíveis para lojistas na Galeria Metrópole, em divisões de cerca de 50 metros quadrados e alugueis, em média, de R$ 3,5 mil.

Editoras e livrarias também encontraram espaço para operar na Metrópole, com uma seleção de livros que agrada ao público principal que habita por lá – arquitetos, fotógrafos, designers e interessados em arte em geral. A IP Livros Usados é uma das que funciona no local com uma seleção de livros sobre os assuntos favoritos desse público.

Há pouco mais de um ano, a Sobinfluencia Edições funciona como livraria e também um espaço de encontros de formação política, movimentos autônomos e arte independente. A loja mais nova no local é do Instituto Socioambiental (ISA), organização que defende os direitos dos povos indígenas e exibe uma seleção de cerâmicas, cestarias e acessórios produzidos por diversas etnias.

Não muito longe dali, o movimento de resgate da Metrópole parece se repetir no Condomínio Edifício e Galeria Califórnia, que interliga a rua Barão de Itapetininga com a Praça Dom José de Barros, projetado pelos arquitetos Oscar Niemeyer e Carlos Lemos.

Assim como a Metrópole, o condomínio também experimenta uma radical mudança no perfil de seus ocupantes. Tradicionais no local, os escritórios de advocacia passaram a dividir espaço com lojas de artesanato e estúdios de artistas visuais que se transferiram para lá.

A arquitetura, o tamanho generoso dos apartamentos e até a luminosidade da região fazem com que o endereço se adapte perfeitamente às atividades dos vinte ateliês que hoje atendem no local.

IMAGENS: divulgação