Conheça mais sobre essa herança do Carnaval europeu que se integrou à cultura de Pernambuco e o trabalho dos artesãos locais sobre o tema
Quem mora fora Pernambuco talvez não conheça La Ursa, personagem presente nas festas de rua de Recife e outras cidades do interior durante o Carnaval, trazida pelos imigrantes europeus e se integrou à cultura local.
Com elementos teatrais, a atuação tem um urso como figura central acompanhado de seu domador, mas não para por aí e invade – no bom sentido – o território do artesanato, com a produção de máscaras, esculturas e cachepôs.
A tradição faz alusão aos números circenses com o animal, algo comum na Itália à época em foi introduzida por aqui, entre o final do século 19 e a década de 1920. A fantasia principal consiste em um macacão feito de veludo, estopas, pelúcia ou retalhos de tecidos costurados, além de uma máscara que cobre toda a cabeça, geralmente feita de papel machê e pintada à mão.
O conjunto conta ainda com o caçador ou domador – que costuma carregar uma espingarda –, o italiano, representado com grandes bigodes e que arrecada dinheiro dos foliões, além de outros personagens como o porta-cartaz. “Crianças e adultos saem pelas ruas brincando, dançando, cantando marchinhas, pedindo dinheiro e fazendo bastante barulho por onde passam”, conta Lucas Lassen, curador e diretor criativo da Paiol, loja de artesanato e arte popular brasileira.
O interessante da arte popular, segundo ele, é a liberdade que dá aos artistas para buscarem suas distintas interpretações sobre um mesmo tema. “La Ursa faz parte do imaginário pernambucano e está nas ruas, nas fantasias e também na cerâmica”, analisa o curador.
Conheça alguns nomes da arte no cenário pernambucano que transferem essa tradição para o artesanato.
1. Lula Vassoureiro
Natural de Bezerros, no Agreste Central, Lula Vassoureiro conta que fez a primeira máscara em 1950, aos 6 anos, para uso próprio. Um dos mais antigos artesãos que carregam a tradição das máscaras de papel machê, ele foi influenciado pelo pai e avô – também excelentes artesãos.
Após muitas décadas fazendo máscaras inspiradas na cultura pernambucana, desde 2014, Vassoureiro é considerado Patrimônio Vivo de Pernambuco, com a incrível marca de mais de dez milhões de máscaras produzidas.
2. Mestre Antônio Rodrigues
O Mestre Antônio Rodrigues é conhecido por seus bonecos de barro policromados. Nascido em Alto do Moura, bairro de Caruaru, tido como o maior centro de artes figurativas das Américas, ele se tornou ceramista por influência do pai, o Mestre Zé Caboclo, e de amigos como o Mestre Vitalino.
Também se dedica a reproduzir as cenas do cotidiano pernambucano, dentre elas a La Ursa, com figuras de pouco mais de 30 cm, que representam um homem vestindo a fantasia de urso – bem fiéis às que são vistas nos carnavais de rua do Estado.
3. Aline Feitosa
Aline Feitosa veio da área de comunicação, na qual atuou por 25 anos, quando começou a trabalhar com cerâmica por hobby, em 2020. Moradora de Olinda, sempre esteve envolvida no cenário cultural da cidade, por isso seu desejo era fazer peças que unissem as tradições locais e, ao mesmo tempo, tivessem uma função utilitária.
A La Ursa foi a primeira personagem que ela começou a criar a partir do barro e, desde então, nunca mais parou, com seus cachepôs que viraram sucesso. Atualmente, chega a produzir cerca de 300 peças mensais.