O que é a Quarta-feira de Cinzas?

Quarta-feira de Cinzas é a data que marca o início da Quaresma no calendário Cristão ocidental.

Foi instituída há muito tempo na igreja e ocorre 40 dias antes da Páscoa – sem contar os domingos.

A data é entendida pela Igreja como o início de um período de devoção marcado por orações e jejuns, como parte da penitência que todo cristão deve realizar, segundo os princípios da Igreja Católica.

Simbologia

Além de ser o primeiro dia da Quaresma, a Quarta-feira de Cinzas encerra o Carnaval. Conhecido como a celebração da carne, ao longo da história o Carnaval ficou marcado por ser um período de muitas festas e consumo de bebida e comida. Diante disso, a Quaresma convoca os cristãos para um período de orações e jejum.

Na Quarta-feira de Cinzas, a Igreja Católica realiza uma missa especial onde os fiéis recebem uma marca em forna de cruz na testa, feita com cinzas.

Foto: Wesley Almeida/ cancaonova.com

Esta marca é um símbolo justamente para a reflexão sobre a mudança de vida, o arrependimento, reconhecimento da nossa mortalidade e que necessitamos da graça divina para perdoar nosso pecados.

Durante a quarta-feira de cinzas os católicos são orientados a fazer jejum ou no mínimo ficam sem comer carne.

Significado

As cinzas usadas na missa vêm de ramos abençoados e queimados no domingo de ramos do ano anterior. Elas simbolizam a morte.

Assim como os ramos que eram vivos e viraram pó, um dia nós iremos morrer e os nossos corpos também serão apenas cinzas, segundo a tradição cristã.

Para os antigos judeus, sentar-se sobre as cinzas significava arrependimento dos pecados e volta para Deus.

A imposição de cinzas surgiu na Igreja Primitiva e foi incorporada como um ritual sacramental da Igreja Católica por volta do século XI.

Carnaval Brasileiro

Vimos neste post aqui que o Carnaval não é uma invenção brasileira. 

Comemorado em muitos lugares do mundo, chegou no nosso país com os colonizadores – por meio do “’entrudo”, uma brincadeira popular em Portugal.

A prática se estabeleceu no país e foi muito popular, mas desapareceu aos poucos  por conta da repressão contra a brincadeira. Nela, pessoas sujavam as outras com água, farinha, terra e até coisas podres.

Entrudo em Arraias (TO). Fonte: Portal UFT

Com o passar do tempo o Entrudo deixou de ser festejado e deu lugar ao Carnaval com bailes e desfiles glamourosos. 

Como era algo para a elite, onde se cobravam valores altos para entrar nos clubes e bailes, as classes baixas começaram a festejar nas vias públicas.

Assim foram surgindo os blocos, grupos de maracatus, frevos e escolas de samba.

A partir daqui, o Carnaval assumiu a posição de maior festa popular do Brasil!

Desfiles

Alberto Ikeda, pesquisador de música e cultura popular brasileira, professor colaborador do programa de pós-graduação da ECA-USP e aposentado pelo Instituto de Artes da Unesp explica que no século 19 começaram a surgir clubes e sociedades carnavalescos no Rio de Janeiro, onde pessoas de elite se juntavam para uma espécie de desfile de carros alegóricos. Por influência dos negros, a banda foi substituída por baterias de escola de samba.

“Enredo: nota… deeeez”
A disputa por agremiações, como acontece hoje, é algo bem mais recente. A competitividade das sociedades carnavalescas deu origem a essa disputa. “O carnaval que a gente tem hoje começa ao final da década de 1920, quando surge uma escola de samba no Rio chamada Deixa Falar, e logo em seguida, em 1929, a Mangueira. A partir de 1933, há grupos suficientes para começar a ter uma espécie de competição, com o desfile das escolas de samba, que contam predominantemente com a presença negra“, explica Alberto Ikeda.

Na época o Rio de Janeiro era a Capital do Brasil e por isso era uma referência cultural, o que ajudou a espalhar o costume para outras cidades.

As escolas de samba passaram a se tornar uma importante atividade comercial e a partir da década de 1960 empresários começaram a investir na tradição cultural. Em seguida, a Prefeitura do Rio de Janeiro e a de São Paulo criaram estrutura para o evento.

Em 1984 foi criado o Sambódromo (ou a Passarela do Samba) no Rio, com desenho arquitetônico de Oscar Niemeyer.

Foto: rio-carnival.net

Além das escolas de samba

O Carnaval é comemorado de diversas formas pelo Brasil. 

Diferente dos desfiles do Rio e de São Paulo, na Bahia surgiram os afroxés (ritmo musical).

Em Pernambuco a festa conta com os bonecos gigantes.

O Carnaval da Bahia é um dos mais animados do país, em especial em Salvador!

Tem ainda o frevo em Recife e o maracatu em Olinda.

De onde surgiram os Bonecos Gigantes de Olinda?

Construir bonecos gigantes é uma tradição que surgiu na Europa, por volta da Idade Média, onde eram utilizados em procissões em forma de santos católicos.

Chegaram ao Brasil, especificamente em Pernambuco, com os europeus. Na cidade de Belém de São Francisco, sertão do estado, um padre belga contava sobre a tradição dos bonecos, despertando a curiosidade e imaginação do povo.

Um jovem sonhador que ouvia as histórias do padre sobre o uso de bonecos nas festas religiosas da Europa quis fazer igual. Assim, o primeiro boneco chamado Zé Pereira foi às ruas durante o carnaval de 1919.

Em 1929 surgiu a boneca companheira de Zé, batizada de Vitalina.

Eles eram confeccionados de papel machê e madeira.

Olinda

De Belém de São Francisco, os bonecos ganharam as ladeiras de Olinda poucos anos depois. Confeccionado pelos artistas plásticos Anacleto e Bernardino da Silva, surgiu o Homem da Meia Noite.

Segundo o conhecimento popular, todos os dias, exatamente à meia-noite, um homem muito bonito seguia a pé pela Rua do Bonsucesso. Ele fazia sempre o mesmo caminho. Depois de um certo tempo, as moças da rua descobriram a rotina dele e passaram a esperar, escondidas, atrás das janelas, para admirar o belo homem que atravessava a rua.

A fama desse costume foi se espalhando e virou uma brincadeira de carnaval.

Fizeram um boneco bem grande, todo bonito e elegante, de terno, gravata e chapéu, para passar à meia-noite, começando a festa de carnaval, na sexta-feira. Curiosidade: até hoje, o boneco faz o mesmo percurso do Homem da Meia-Noite. Depois dele, surgiram a Mulher do Meio-Dia, o Menino da Tarde entre outros.”*

programacaoFoto: carnavalrecife.com.br

Assim, virou tradição a criação do Encontro dos Bonecos Gigantes, onde vários bonecos de diversos artistas se encontram para um grande desfile pelo sitio histórico de Olinda na terça de carnaval.

Nova Geração dos Bonecos

Em 2008, o empresário e produtor cultural Leandro Castro criou uma nova geração dos Bonecos Gigantes, junto com uma equipe de artistas. Juntos construíram grandes nomes da história e cultura brasileira, além de personalidades mundiais como: Mauricio de Nassau, D. Pedro I, Lampião, Michael Jackson, Luiz Gonzaga, Ariano Suassuna, Dominguinhos, Chacrinha, Alceu Valença, Chico Science, Elba Ramalho, Pelé, Jô Soares, Neymar, Os Beatles, Rita Lee, Roberto Carlos, David Bowie, Elvis Presley, ente outros.

Sineide e Leandro Castro

Como a nova geração dos bonecos tem impressionado muito pelo realismo das expressões faciais e figurinos, ganharam o título de museu de cera popular itinerante.

Os artistas conseguiram o realismo das expressões com os materiais usados: matriz moldada em argila e depois uma aplicação em fibra de vidro, material mais leve e duradouro. As mãos dos bonecos são de isopor, para não machucar os foliões durante as apresentações.

A altura média é de 3,90m.

Embaixada de Pernambuco

Em Recife os bonecos permanecem em exposição o ano inteiro na Embaixada de Pernambuco – Bonecos Gigantes de Olinda localizada na Rua Bom Jesus, 183 no Recife Antigo.O acervo da Embaixada atualmente ultrapassa mais de 340 bonecos.

Fotos: http://www.bonecosgigantesdeolinda.com.br

A Embaixada de Pernambuco dos Bonecos Gigantes de Olinda nasceu da necessidade do turismo de Recife e Olinda em receber turistas e locais para contemplar a nova geração dos Bonecos em um espaço cultural o ano todo, não somente no carnaval.

A visita é monitorada por um guia. 

Passaporte:
Adultos R$ 15,00 (Quinze reais).
Criança com até 12 anos de idade acompanhada pelos pais entra de graça.
(Limitado a 02 crianças por família)
Consulte valores para grupos pedagógicos.

Horário de Funcionamento:
Diariamente das 08:00h às 18:00h.
Abre nos feriados – exceto no Carnaval (do sábado até a terça), 25 de dezembro e 01 de janeiro.

Contato: 55 (81) 3441.5102 / 98775.0540 (TIM / WhatsApp)
E-mail: leandro@bonecosgigantesdeolinda.com.br

*Trecho retirado de: http://www.ebc.com.br/infantil/voce-sabia/2013/02/qual-a-origem-dos-bonecos-gigantes-de-olinda

Fonte: Fontes: wikipedia, bonecosgigantesdeolinda.com.br, EBC

Bonecos de Olinda em mandeira, disponível na loja Paiol

História do Carnaval

Já estamos na metade do mês de fevereiro e o pensamento mais frequente agora é: tá chegando o Carnaval!!

Origem

Tradicional festa popular, o Carnaval é realizado em muitos lugares do mundo, mas só no Brasil ele é o mais celebrado! Sua origem remonta à Antiguidade. É uma herança de várias comemorações realizadas por povos como egípcios, hebreus, gregos e romanos. A festa pagã era realizada para celebrar as grandes colheiras e louvar divindades.

Muitos pesquisadores explicam que a palavra “Carnaval” vem da expressão latina: carnem levare, que significa “retirar ou ficar livre a carne”. Isso porque, já na Idade Média, a festa foi incorporada pela Igreja Católica como uma forma de aproveitar os últimos dias de “liberdade” antes do jejum da Quaresma.

Nos 40 dias antes da Páscoa era proibido o consumo de carne.

A variação na data do Carnaval é porque o calendário está ligado diretamente à Páscoa que acontece no segundo domingo de Abril. Desta data, 46 dias (40 da Quaresma e seis da Semana Santa) antes, no calendário, é a quarta-feira de cinzas.

A Festa

A comemoração do carnaval foi ficando diferente em cada país católico que manteve a celebração. No Brasil sofreu forte influência de uma folia Portuguesa e de outros países.

MARCHINHAS:

Na década de 1930 e 1950 as marchinhas surgiram. Ó Abre Alas é considerada a primeira canção escrita especialmente para um bloco de Carnaval. No final do século 19 surgiram os blocos carnavalescos. 

TRIO ELÉTRICO

Já o trio-elétrico é algo bem brasileiro, que surgiu em 1950 quando os músicos baianos Dodô e Osmar saíram tocando pelas ruas de Salvador, em um Ford 29 com dois alto-falantes. A novidade fez sucesso e no ano seguinte os músicos, conhecidos como “dupla elétrica”, convidaram Themístocles Aragão para seguir junto e assim formaram um “trio elétrico”.

BLOCOS DE RUA

Os blocos de rua surgiram em meados do século 19, quando o sapateiro português José Nogueira de Azevedo Prates, o Zé Pereira, saiu pelas ruas do Rio de Janeiro tocando um bumbo. A brincadeira atraiu a atenção dos foliões que foram se juntando ao músico.

FANTASIAS

A tradição de se fantasiar veio dos bailes de máscaras, tradicionais na nobreza em alguns países da Europa. A partir do século 19 as fantasias começaram a se tornar populares.

                                                                 Fonte: Super Interessante

Você sabe do que é feito o TUCUPI?

O Brasil é um país grande, com a culinária muito rica, saborosa e diversificada. Cada estado do país tem seus pratos típicos e a maioria é uma mistura de influências europeias, indígenas e africanas.
Muitas receitas e formas de preparar os pratos são herdados dos indígenas, mas que sofreram adaptações e modificações dos portugueses e dos escravos que vieram da África. Cada povo substituiu ingredientes e técnicas à sua maneira.

Hoje trouxemos um pouco da história de um caldo muito típico da região norte do país! Um prato bem brasileiro!!!

Tucupi

Principal ingrediente do Pará, região norte do país, o tucupi é extraído do suco da raiz da mandioca-brava ralada e espremida. Depois de extraído, esse caldo descansa para que o amido se separe do líquido (este líquido é o tucupi). Em seguida ele precisa ser fervido e fermentado demoradamente para perder o ácido venenoso para, então, ser usado como molho.

A goma que se separa do tucupi é o amido, conhecido como polvilho. Vira tapioca, é usado no pão de queijo e em muitas outras receitas.

Foto: Renata Baía

Características

De cor amarela, o Tucupi tem sabor e cheiro marcantes, caracteristicamente ácido.

Ele recebe temperos como alho e ervas aromatizantes regionais, tais como o coentro, chicória e alfavaca, antes de ser comercializado ou utilizado na culinária.

Alex Atala, famoso chef brasileiro é um admirador do tucupi.
É bom com tudo, de qualquer jeito, quente, frio, na pimenta. Eu sei que no Pará se usa muito, mas o Brasil ainda desconhece e ainda existe um certo preconceito pelo desconhecimento, mas o tucupi está ganhando cada vez mais espaço no Brasil”, comenta. Para ele, o tucupi pode ganhar o status de “shoyo do novo século”.

Foto: Ronaldo Rosa

Origem

De origem indígena, é um dos ingredientes marcantes da culinária da região norte do Brasil. No sudeste ainda é considerado exótico por seu sabor marcante.

“Reza a lenda que Jacy (a Lua) e Iassytatassú (Estrela d’alva), combinaram visitar o centro da Terra. Quando foram atravessar o abismo, Caninana Tyiiba (uma cobra) mordeu a face de Jacy.
Jacy derramou suas lágrimas sobre uma plantação de mandioca. Depois disso o rosto de Jacy ficou marcado para sempre pelas mordidas de Caninana. A partir das lágrimas de Jacy, surgiu o tycupy (tucupi).” 

Foto: Renata Baía

Receitas

As receitas mais famosas que utilizam o tucupi pronto e temperado são:

Pato no Tucupi
Tacacá
Arroz Paraense

Foto: Ronaldo Rosa

                                              fonte: embrapa e wikipedia

Simplicidade, simpatia e ternura em um abraço

Sempre de bracinhos abertos, com os olhos e boca pequenininhos, os bonecos Pedidores de Abraço conquistaram o Brasil graças a simplicidade, beleza e simpatia.

Eles nascem das mãos de Emeton Kroll e o Yran Palmeira, de Caruaru, Pernambuco. Na cidade, os artistas têm o Ateliê Armoriarte, lugar que dá vida à várias obras de arte com traços únicos e singelos.

Primeiro Pedidor de Abraço

Yran e Emeton tinham um amigo em comum que era apaixonado por pintura. Se encantaram por esse universo e se arrisacaram tambpem. Começaram com pintura em tela e só depois usaram a cerâmica, matéria-prima dos Pedidores de Abraço.

A primeira obra de arte nasceu de braços abertos. Não tinha nome, mas já emanava sentimentos bons, qie fizeram Yran lembrar da infância. “Lembrei que na década de 80 e, como bom nordestino, a gente tinha uma demanda muito grande de pessoas que pediam auxílio nas portas das casas. Eu fico muito saudoso em lembrar dessa época porque meu pai ainda estava vivo. Meu pai sempre quando ia atender a porta, atender estas pessoas, ele me levava junto. Eu via a emoção das pessoas quando meu pai dava alguma ajuda. Muitas vezes eram famílias que batiam na porta pedindo auxílio. Além de eles estarem com os olhos cheios de lágrimas, eles abriam os braços para abraçar o meu pai e a mim para agradecer aquele gesto”, conta Yran.

A lembrança de Yran foi acolhida por Emeton. E assim, a obra ganhou significado e homenagem às pessoas que pediam auxílio e agradeciam com abraço.

Outras peças foram esculpidas e ganharam admiradores. São feitas de argila e queimadas em temperatura alta. Depois de queimadas, são lixadas e pintadas. Emeton esculpe e Yran pinta.

Ariano Suassuna tem participação nas obras da dupla. As cores e os traços dos Pedidores de Abraço são inspirados na obra do escritor. “A gente bebe muito da fonte de Ariano, que é um mestre. O mundo imaginário e lúdico dele nos impactou de uma forma tão linda, tão transformadora que nos tornamos seguidores dos traços armoriais. A gente tem a essência de Ariano impregnada nos Pedidores de Abraços”.

Mensageiros

Mais do que objetos de decoração, os Pedidores de Abraço são criados para serem mensageiros da paz, humanidade, união, afeto, acolhimento… 

Só de olhar os bonecos já sentimos um quentinho no coração e o sorriso brota automaticamente do nosso rosto. É impossível não ser impactado por peças tão singelas, simpáticas e acolhedoras como os Pedidores de Abraço.

Você concorda?

Fotos: instagram @armoriarte

Instagram ARMORIATE

Paiol Convida: encontro com artistas do Ateliê Armoriarte

Você já viu o concurso que lançamos em nosso perfil do Instagram, em parceria com o Ateliê Armoriarte?

O concurso desafia os seguidores da Paiol que estão em São Paulo a responderem a pergunta “O que o abraço representa para você?”.

No dia 13 de fevereiro nossa equipe irá divulgar a melhor frase, escolhida por nós, e o autor vai ganhar uma Pedidora de Abraço!

Participe do Concurso

A arte será entregue para a pessoa vencedora no dia 15 de fevereiro, em um evento na Loja Paiol da Fradique Coutinho.

Os artistas Yran e Emeton, que fazem os Pedidores de Abraço, irão entregar em mãos a boneca para o ganhador. Por isso limitamos o concurso apenas para São Paulo, ou para quem tiver a disponibilidade de comparecer no evento e retirar o prêmio.

Além da entrega da Pedidora de Abraço, teremos um bate papo muito legal com os artistas do Ateliê, tudo isso regado a boa comida.

Você é nosso convidado!

A arte de Conceição dos Bugres

“Um dia, me pus sentada embaixo de uma árvore… Perto de mim tinha uma cepa de mandioca, que tinha cara de gente. Pensei em fazer uma pessoa e fiz. Aí, a mandioca foi secando e foi ficando parecida com uma cara de velha. Gostei muito. Depois eu passei para a madeira… Começo a fazer e já vai saindo aquela forma de costume. Muitas vezes nem penso nisso e sai um rindo. Parece que a madeira é que quer sair assim. Acho que a madeira manda mais que eu”.

Assim começou a história da escultora Conceição Freitas da Silva, mais conhecida como Conceição dos Bugres.

Foto: Roberto Higa

Nascida em Povinho de Santiago, Rio Grande do Sul, 1914, Conceição mudou com a família, ainda criança, para Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, por causa da perseguição aos índios na região Sul, em confrontos com a onda de imigração europeia no início do século XX. Anos depois vai para Campo Grande e lá fica até sua morte, em 1984, com 70 anos.

Ela trabalhava na roça e dedicava-se aos trabalhos manuais. Ficou conhecida pela produção de “bugres”, esculturas de pessoas com traços indígenas, e foi considerada a escultora mais importante do Centro Oeste, tornando-se ícone do Mato Groso do Sul.

Era mãe de dois filhos, casada com o também artista Abílio Antunes.

Relação com a natureza

Tinha uma relação de respeito com a natureza, de onde tirava a madeira, cera de abelha e ervas. As esculturas produzidas são cobertas de cera, que serve para preservar a madeira e proteger a figura do frio. A técnica da cera foi revelada à ela em um sonho.

Segundo Conceição, seus golpes de cinzel e serrote seguem informações já contidas nas toras de eucalipto; são um meio de revelar aquilo que já existe no material. “A madeira é sábia”.

Seu trabalho é preciso e repetitivo. O cabelo das esculturas e os traços do rosto remetem à ascendência indígena. Já o formato do corpo é do formato original da madeira, sem muita intervenção da artista. De acordo com o Professor Miguel Chaia, a obra de Conceição é “fundamentada na repetição da igualdade e na especificidade da diferença”. Ele destaca que a artista dedica-se a um único assunto e, em torno dele, desdobra infinitamente uma mesma forma e uma mesma técnica. Formalmente, há em suas obras uma aliança entre síntese e seriação que remete a escultores modernos como o franco-romeno Constatin Brancusi (1876-1957). Há, ainda, o vínculo com expressões primitivas e arcaicas, como os moais da Ilha de Páscoa, ou com arquétipos da cultura popular, como os ex-votos.

Bugre

O nome “bugre”, que Conceição adota para nomear as esculturas, remete à sua origem, tribo indígena do sul do Brasil, perseguida pelos bugreiros. “O termo ‘bugre’ passou a designar os índios combatidos, perseguidos e afastados do seu território”, explica Miguel Chaia.

A esperança de encontrar uma vida melhor não se realiza. 

Reconhecimento

Demorou para que a artista ganhasse reconhecimento. O esforço da crítica Aline Figueiredo e do artista plástico Humberto Espíndola em defesa da produção artística do Centro-Oeste contribuiu para que Conceição dos Bugres fosse conhecida.

A obra da artista foi exposta em várias exposições pelo Brasil e até internacionalmente, como Espanha e França.

Legado

Abílio, marido de conceição, fazia móveis de madeira. Após a morte da esposa ele começa a fazer os bugres. 

O neto Mariano acompanhava o trabalho da avó e seguiu seu legado: “enquanto eu estiver vivo e as condições físicas permitirem, jamais deixarei de fazer”.